Volta às aulas presenciais tem riscos; existe o que fazer?

Atenção, comunicação com a escola e cuidado redobrado são algumas dicas

Apesar de todos os riscos envolvidos, a Secretaria de Estado da Educação (Seed-PR) determinou a volta às aulas presenciais a partir do mês que vem. Segundo o plano do governo Ratinho Jr. (PSD) , a volta às salas de aula será no modelo híbrido. A decisão é controversa e já levou os professores da rede estadual de ensino a anunciar uma greve.

Quem de fato retornar, mesmo que algumas vezes na semana, vai correr riscos. Segundo especialistas, para os pais que mandarem os filhos para a escola, é importante ficar de olho em alguns fatores que podem diminuir o risco de contaminação (como manter o distanciamento social, usar máscaras e reforçar os cuidados de higiene, evitando levar o vírus para casa).

Entidades como a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e a Unicef reuniram algumas indicações para reduzir os riscos à saúde das crianças, da comunidade escolar e da família nesse período de transição. As duas organizações reconhecem que o momento é muito sensível, mas também indicam que o retorno pode ajudar não apenas no ensino regular como nas habilidades sociais das crianças e na segurança alimentar para os mais vulneráveis.

A seguir, algumas dicas para reduzir os riscos do coronavírus na escola:

Converse com as crianças e entenda as dúvidas e medos delas

Assim como em outros momentos, a pandemia de Covid-19 pode desencadear estresse e ansiedade nas crianças e adolescentes. Por isso, é necessário que qualquer mudança na rotina seja discutida com os alunos. É importante entender o que eles estão sentindo nesse momento, além de ser uma ótima oportunidade para começar a falar sobre os cuidados que eles precisarão adotar.

“Crie um ambiente de apoio e encorajamento e responda positivamente às perguntas e expressões de seus sentimentos”, indica a Unicef. Além disso, é importante encorajar que meninos e meninas dividam o que estão sentindo não apenas com os pais, mas também com os professores. Assim, a sala de aula se torna um local de menor ansiedade e estresse.

As suas dúvidas também precisam (e devem) ser respondidas

Lembre-se que a melhor forma de se proteger é tendo informações. Assim, mesmo que sua filha ou filho faça parte do grupo que passará a maior parte do tempo estudando com videoaulas em casa, converse com a diretoria da unidade escolar para que todos os processos e passos da retomada sejam compreendidos. Isso vai facilitar a orientação das crianças e fazer com que o processo seja mais transparente para todos. A coordenação com a comunidade escolar é um dos pontos reforçados pela Unicef como uma atividade que deve ser realizada constantemente.

O uso constante da máscara

A SBP recomenda que no ambiente escolar todas as crianças acima de dois anos de idade utilizem a máscara para se proteger contra potenciais infecções. Apesar do uso ser indicado para crianças de seis a onze anos apenas em localidades com alta incidência da Covid-19, para os pediatras a situação de todo o Brasil se encaixa nessa definição.

A higiene deve continuar e a atenção precisa ser redobrada

Para as crianças que retornarem às escolas presencialmente, mesmo que não durante todos os dias, é importante que medidas como lavar as mãos frequentemente e utilizar álcool em gel sejam reforçadas. Também é importante que a recomendação de não tocar nos olhos, nariz e boca seja relembrada, mesmo que essa seja uma mudança mais difícil para as crianças, especialmente as pequenas.

Outras práticas de higiene também precisam ser ensinadas

Principalmente para as crianças pequenas, hábitos de higiene podem não ser tão naturais quanto para os adultos. Para que a prática seja mais fácil a Unicef recomenda que tossir e espirrar em lenços papel e no cotovelo, por exemplo, devem ser ensinados e treinados em casa. Explicar os motivos e dar o exemplo também podem funcionar para que as crianças internalizem o hábito mais rápido.

Conheça os sintomas da Covid-19 e preste atenção à saúde da criança

Uma das melhores formas de proteger seus filhos e filhas, assim como a sua comunidade, é saber todos os sinais da Covid-19. Preste atenção em sintomas como a febre e a tosse persistente ou qualquer outra indicação gripal, já que são doenças que começam de forma similar. Para a Unicef, o mais seguro em casos de sintomas é deixar a criança em casa.

“Mantenha a criança e o adolescente em casa e a escola deve ser informada dessa ausência e dos sintomas apresentados. Solicite atividades e material de leitura para que o aluno continue a aprender enquanto está em casa.”

Sobre o/a autor/a

5 comentários em “Volta às aulas presenciais tem riscos; existe o que fazer?”

  1. O Plural tem sido um oásis, desde seu início. Finalmente, informação de qualidade, textos instigantes, arte, cultura, belas charges, pauta local, ótimas conexões com o Brasil e o mundo. Excelente. Grande companhia nesses tempos em que procuro ficar em casa a maior parte do tempo.

    É na qualidade de leitor-fã que faço esta crítica.

    “Volta às aulas presenciais”, com os números atuais, em Curitiba e no Paraná, é uma tragédia anunciada. Sim, os riscos podem ser reduzidos, porém, a equação continua sendo: altos números de casos na comunidade e aumento de circulação de pessoas implicam, indubitavelmente, em aumento do número de doentes – com mais mortes, sobrecarga no sistema de saúde e mais casos de Covid Persistente. Volta às aulas presenciais implica em mobilizar um grande número de pessoas que participam dos processos relacionados à escola e em aumento de mobilidade, de contatos, de oportunidades de contágio.

    Sou professor, sou pai, importo-me – e muito – com as crianças e jovens, porém, não me parece razoável o uso do argumento das “habilidades sociais” das crianças enquanto justificativa para a volta. Pergunto: haveria habilidade social mais importante do que cuidar da vida, ainda que isso implique em sacrifícios? Enquanto não houver vacina, enquanto a pandemia estiver fora de controle (no Brasil, no Paraná, em Curitiba), enquanto não houver estratégias de testagem, isolamento de contatos e quebra das correntes de transmissão da doença, enquanto não houver condições de fazer aqui o que se faz em outros países (que viabilizaram a volta às aulas), então, a melhor habilidade social que podemos ensinar às nossas crianças e jovens é: fazer o que é certo. Fazer o que é certo, no cenário atual do Brasil, do Paraná, de Curitiba é não retomar aulas presenciais.

    Fazer o que é certo reverbera o conceito Freireano da “ética universal do ser humano”…

    Neste sentido, dar “dicas” de procedimentos individuais, apresentar o uso de máscaras, álcool em gel e práticas de higiene – o que deveria ser feito o tempo todo – enquanto recurso para “reduzir os riscos” na escola, ainda que com o selo da Unicef ou de outras entidades sérias, não passa de discurso que promove o retorno às aulas presenciais. Então, que esta matéria (e não estou discutindo intenções) aponta para o que seria uma, digamos, obviedade: a volta às aulas, fato a ser consumado em fevereiro. A volta às aulas presenciais é algo dado? Não seria o caso de disputar, de recusar a naturalização desta ideia?

    Ora, se os números neste mês de janeiro são “piores” do que nas piores semanas da primeira onda – e naquela época (julho-setembro/2020) era uma péssima ideia a volta às aulas presenciais -, então, pergunto: por que dar como fato o retorno agora? Por que o governo do estado publicou um decreto? Por que há grupos organizados articulando pelo retorno (e fazendo ecos do discurso presidencial que, desde março de 2020, prega que as pessoas têm que se expor, que é uma gripezinha e por aí vai…)?

    Seria ainda o caso de comentar o argumento da “segurança alimentar para os mais vulneráveis”, também apresentado como justificativa para o retorno às aulas presenciais. Estou aqui matutando: não combina com o Plural. Vá lá: não haveria outras maneiras (é o caso de usar a palavra certa: políticas) para promover “segurança alimentar” em tempos de pandemia?

    No fim das contas, estou aqui pedindo pra vocês reverem esta questão. Vou até fazer uma rima: volta às aulas (agora), não!

    1. Rosiane Correia de Freitas

      Oi Arandi, tudo bem? Olha, nós aqui do Plural concordamos que é um risco retomar as aulas. Eu mesma sou mãe e mantive meus filhos em casa, inclusive no fim do ano quando as aulas presenciais voltaram na escola deles. Mas existe uma pressão contínua pela retomada das aulas e tem ficado claro que é algo que tanto o governo do Estado quanto a prefeitura devem tentar impor neste começo de ano letivo. Nesta situação, o que resta para as famílias que serão de uma forma ou outra pressionadas a mandar seus filhos para a escola? Tentar se proteger da melhor forma possível.
      No jornalismo nem sempre noticiamos o que gostaríamos de noticiar. Mas não podemos ignorar o assunto só porque não concordamos ou não gostamos. É isto que estamos fazendo aqui. Espero que entenda.

      1. Sim, entendo. Continuo sentado na primeira fila. Vocês fazem jornalismo.

        Tenho acompanhado debates semelhantes que acontecem no Reino Unido, na França e no Canadá. Há forte disputa com relação à volta às aulas presenciais.

        As novas variantes do vírus trouxeram complexidade adicional à discussão: há evidências de que as crianças sejam muito mais suscetíveis (do que se imaginava ser com respeito à primeira onda). Parte do planejamento para o retorno presencial não leva em conta este fato novo.

        Inclusive, estudos recentes apontam que a participação das crianças e adolescentes nos processos de contágio é muito significativa (crianças e jovens levam, sim, o vírus para casa). Vide, por exemplo: https://www.thelancet.com/journals/laninf/article/PIIS1473-3099(20)30981-6/fulltext

        Outra questão que tem passado em branco – e que diz respeito ao retorno às aulas presenciais – tem a ver com o aumento de crianças e jovens que sofrem de Covid Persistente (Long Covid), bem como de “síndrome inflamatória multissistêmica”. Há intensa mobilização de grupos no Reino Unido, por exemplo, na tentativa de trazer estes temas para o debate. É desolador acompanhar os relatos de crianças que estão praticamente incapacitadas por conta de sequelas associadas à Covid-19.

        Do ponto de vista político, “aceitar” a volta presencial enquanto fato dado tem um aspecto simbólico catastrófico: significa uma vitória do negacionismo, uma vitória (por teimosia e insistência) do bolsonarismo genocida (expressão que, hoje, já não tem mais nada de panfletário). Neste caso, convém lembrar, a desobediência civil é recurso disponível (gozo momentos de entusiasmo, quando penso que nossos jovens não participaram do Enem porque têm também consciência cívica).

        A prefeitura de Curitiba e o governo do Paraná têm praticado uma gestão rasteira da pandemia. Agora, com as vacinas, o que sobra é mais e mais propaganda. Na impossibilidade de reclamar ao Papa, restam-nos algumas possibilidades. O Plural, ainda bem, uma delas.

        A propósito, a Carta Capital publicou um texto importante:
        https://www.cartacapital.com.br/opiniao/escolas-abertas-o-movimento-social-que-quer-reabrir-escolas-publicas/

        Não ao retorno às aulas presenciais. Há que se insistir. Um poema da Adélia Prado serve de inspiração:
        “Quando nasci um anjo esbelto, desses que tocam trombeta, anunciou: vai carregar bandeira”.

        1. Rosiane Correia de Freitas

          Acho que temos aí duas questões paralelas. Por um lado a necessidade imperativa de reduzir o contágio, pois o sistema de saúde está no limite e o risco de agravamento e óbito é grande e real. Mas há também a necessidade de se discutir a sério a reabertura das escolas por sua função social e formativa e os danos da ausência da escola especialmente para crianças das séries iniciais do Ensino Fundamental. Mas essa discussão deveria ser centrada na segurança de professores, funcionários e alunos. Na adaptação das escolas pra nova realidade. E na prioridade de atendimento as crianças mais vulneráveis.
          Nada disso tem sido feito pelo governo do Estado nem pela prefeitura. Querem abrir por abrir, sem transparência, sem diálogo.
          Sobre a síndrome inflamatória em crianças, veja, nem temos dados sobre isso. A prefeitura libera pouca informação, principalmente pouco detalhamento da situação dos doentes. Divulga um total de curados, mas não sabemos, por exemplos, quantos já apresentaram sequelas. Nosso trabalho aqui é e continuará sendo de ir atrás dessas informações.
          Obrigada pela leitura e pelos comentários.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

O Plural se reserva o direito de não publicar comentários de baixo calão, que agridam a honra das pessoas ou que não respeitem níveis mínimos de civilidade. Os comentários são moderados por pessoas e não são publicados imediatamente.

Rolar para cima