O colapso chegou? Profissionais da linha de frente dizem que sim

Na noite de terça, 131 pessoas estavam na fila para leitos Covid-19 em Curitiba

Na segunda-feira, dia 30 de novembro, 40 pessoas estavam em Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) de Curitiba esperando um leito para internação. Na terça, um dia depois, às 16h05, 55 pacientes estavam na mesma situação, segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde. Menos de seis horas depois, às 21h53, eram 72 pacientes, segundo um profissional de plantão naquele momento.

Na Central de Leitos de Curitiba, havia também 50 pacientes da Região Metropolitana e outros 9 pessoas que já estavam em hospitais, mas ainda sem leitos para serem acomodadas. No SAMU (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), no mesmo horário, havia uma fila de pessoas aguardando remoção. No total, 131 pessoas aguardavam leitos clínicos e UTIs para intenção, informou um profissional do setor ao Plural.

A situação, relatada por profissionais da linha de frente, aponta para algo que os dados de ocupação de leitos na cidade ainda não mostram: não há vagas. No último dado disponível no sistema de Dados Abertos da Prefeitura de Curitiba, havia 102 leitos livres, dos quais 70 leitos clínicos e 32 de UTI.

Mas na rotina de quem tá na ponta, esses números não se convertem em vazão para os casos que lotam as unidades de atendimento. O Plural apurou que a remoção de pacientes da Capital para outras cidades já está acontecendo, com pessoas internadas em Campo Largo e em Ponta Grossa.

Só em uma UPA, uma enfermeira ouvida pelo Plural relatou ter 19 pacientes durante a terça-feira (1) aguardando leitos. Para não aglomerar pessoas dentro do prédio, a equipe fechou a entrada e pediu que os pacientes ficassem do lado de fora, ao ar livre (mais seguro), o que lotou a frente do local.

Mais do que a fila para leitos, o que preocupa os profissionais ouvidos é a falta de médicos e enfermeiros qualificados para o atendimento (um problema que já era grave no primeiro pico da doença em Curitiba), o esgotamento de respiradores, monitores e bombas de infusão.

Nas unidades de saúde, uma reorganização causou confusão e muita gente aguardando atendimento. A prefeitura fechou algumas unidades, deslocando o fluxo para pontos de referência, inclusive para retirada de medicamentos.

A mudança liberaria pessoal para reforçar as equipes das unidades mais sobrecarregadas, como a UPA Cajuru, que está recebendo demanda do Boqueirão, que está fechada para fornecer leitos clínicos na retaguarda do atendimento do Hospital do Idoso.

Espera angustiante

O aumento de pacientes no setor Covid-19 das UPAs fez as equipes terem que implantar pequenas mudanças para melhorar o atendimento. “Colocaram um médico na triagem para liberar mais rápido quem tem sintomas leves”, conta uma enfermeira.

Apesar da prefeitura ter mudado o protocolo, direcionando pacientes com sintomas leves ou só suspeita para atendimento telefônico, a procura inclui esses casos. “É uma doença nova, totalmente desconhecida, as pessoas querem ver um médico”, diz.

Para evitar aglomeração, as UPAs fazem fechamento de setores, abrindo novas vagas de espera dentro do prédio só quando outros pacientes são liberados. “A equipe tá desgastada. Quem faz hora extra está cansado. Não dá mais”, completa.

A vereadora Professora Josete (PT) também ouviu relatos da situação caótica das UPAs em Curitiba. A parlamentar, recém reeleita, esteve no fim de semana nas UPAs Sítio Cercado, Tatuquara e Pinheirinho. “O que vimos foi uma superlotação do setor de Covid-19”, relata.

Dos profissionais, a vereadora ouviu histórias de terror. “Na UPA Pinheirinho havia um senhor que desde quarta-feira aguardava um leito de UTI”, conta. “Uma médica teria ficado duas horas ventilando um paciente com uma ambu bag (máscara de válvula de bolsa) porque não havia respirador”, diz.

Tanto a vereadora quanto os médicos ouvidos pelo Plural relataram o esgotamento dos pontos de oxigênio nas UPAs. Questionada, a SMS informou que o uso de cilindros de oxigênio garante maior distanciamento entre os pacientes.

“Os cilindros são bastante úteis nas UPAs com os pacientes que não estão internados, que precisam de oxigênio momentaneamente, enquanto aguardam resultados de exames, são medicados. O uso do cilindro evita a proximidade com pacientes em situação mais grave, pacientes mais comprometidos. Enquanto aguarda e recebe esse atendimento com cilindro, muitas vezes o paciente já se recupera e nem precisa mais de oxigênio. Os cilindros também permitem garantir um distanciamento maior entre os pacientes”, informou a SMS por nota.

Como a prefeitura fechou duas das nove UPAs na última semana, as sete unidades restantes estariam sobrecarregadas e sem reforço de pessoal. “Por mais que haja uma redução [na demanda], ali há uma sobrecarga sobre a Mesma equipe”, diz a parlamentar. Segundo a SMS, “com a reorganização do serviço, as equipes da urgência e emergência e assistência hospitalar do município estão sendo reforçadas”.

Ao Plural, a parlamentar expressou frustração com o que chamou de indiferença da administração municipal. “Tinham que tomar medidas mais restritivas. Estamos vendo o colapso e uma postura muito indiferente dessa gestão.”

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7 comentários em “O colapso chegou? Profissionais da linha de frente dizem que sim”

  1. Maria silça de Assis Carvalho

    É bem verdade que a falta ou ausência dos cuidados e isolamento social contribui p toda essa situação(nós população, podemos fazer a nossa parte).
    Mas à muito tempo nossa saúde não tem recebido a atenção merecida pelos políticos e autoridades.
    A falta de leitos não é de hj.
    Se a equipe de saúde já era sobre carregada, imagina com pandemia.
    Se a comunidade já tinha dificuldades de acessar um atendimento adequado imagine com a pandemia.
    Portanto, melhor coisa realmente se puder fique em casa.
    Agora pegar o ônibus tá difícil, ir de bicicleta ou a pé do sítio cercado até o centro pra trabalhar também não tá fácil .

  2. Gostaria de entender porque a Prefeitura divulga uma determinada porcentagem de ocupação enquanto há relato de fila para leitos, conforme relatado aqui e em outros sites.

    Se há espera, então 100% dos leitos estão ocupados, não? Qual o sentido disso?

    Fica a sugestão de pauta para questionar incisivamente a Prefeitura. Estão divulgando dados falsos ou dados que não dizem nada?

  3. MARCOS ANTONIO ARBAITER

    O estado as prefeituras o BRASIL
    Pecaram desde começo
    Era pra paralizar tudo por 60 dias
    Confinamento.total
    Ninguem.sair de casa
    Mas lida com.ser humano e pior lidar com Bicho
    Desde inicio no BRASIL tudo errado
    Era pra ser 60 dias e milhares pessoas morreram.por negligência governamental
    E BRASIL e povo nao se respeita e NÃO obedece
    Então tem.morre mesmo
    Fato
    E vai morrer muito mais ainda
    Quando surgir vacina sera tarde e viruz decipará sozinho perderá força e sumirá sozinho
    A partir fevereiro / março 2021
    Mas vem.outro vírus seguida…..aguardem.

  4. Enquanto os administradores do estado, da cidade não se tocar que tudo o que foi feito no início,é o correto agora, muitas vidas vai dar baixa no CPF…. Em todos os locais está cheio de pessoas circulando como se o vírus fosse somente uma desculpas de alguns, quando atingir todas as famílias, quem sabe vão entender que não é uma gripizinha, e sim algo muito mais sério.
    Aulas voltando, e pais irresponsáveis levando suas crianças ao colégio, penso que eles não quer que sya criança perca o ano letivo, mais não se importam em começar o ano perdendo sua criança ?
    Quanta coisa inexplicável acontecendo com pessoas que dizem ser inteligente ?

  5. Por causa de pessoas inresponsaveis e que está na essa situação …lamento muito pelos profissionais de saúde que estão sobrecarregados com a carga horária .

  6. Maria do Carmo Manente

    O colapso chegou e com mais intensidade do que os picos identificados da Covid-19 na primeira leva da manifestação do vírus. Porém, cabe ressalvar que diante das necessidades da população jamais poderiam ser fechadas duas unidades de UPAS. PORTANTO, PEDE- SE URGÊNCIA DA PREFEITURA PRA ESTA SITUAÇÃO.

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