“Eu não daria R$ 200 milhões para o ônibus”, diz Christiane Yared

Deputada foi a décima candidata entrevistada pelo Plural

A deputada federal Christiane Yared afirmou, em entrevista ao Plural, que investiria o dinheiro destinado às empresas de ônibus de Curitiba durante a pandemia em outro setor: a sua ideia seria de salvar o micro, pequeno e no médio empreendedor. De acordo com ela, o pequeno empresário é que vai manter a cidade funcionando e vai manter a geração de empregos no município.

Na entrevista para o jornalista Rogerio Galindo, a deputada falou sobre vários temas. Entre eles, defendeu sua postura de votar a favor do Novo Código de Trânsito, apesar do aumento de limite de pontos para cassação da carteira de motorista.

A conversa começou com Yared falando sobre a reportagem da revista Piauí, que afirmou que a parlamentar deu uma “guinada bolsonarista”, ao aprovar o Novo Código de Trânsito proposto pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chegou até a ser apelidado de PL da Morte. De acordo com a deputada, o projeto vai trazer avanços para o trânsito no Brasil. No entanto, ele é recheado de propostas polêmicas.

Leia a entrevista:

Como a senhora, que teve sempre o trânsito como pauta, explica seu voto no novo Código de Trânsito?

Quando o projeto chegou a Câmara Federal, ele realmente era um PL da Morte e eu apresentei mais de 30 emendas a esse projeto. Tive também alguns colegas, aliás vários colegas, que também apresentaram muitas emendas.

Nós criamos um novo projeto em cima do que foi apresentado, tivemos um avanço muito real e muito bom para a sociedade num todo, que acredita que as leis precisam ser cumpridas. Hoje, por exemplo, o Novo Código de Trânsito traz uma emenda que inclusive é um projeto meu, foi aprovado no Senado, que é de punir o infrator que matou no trânsito. E ele não pode pagar com penas alternativas, vai ficar preso, recluso, isso nós não tínhamos no Código de Trânsito. Hoje é um avanço, ganhamos isso.

Foi um trabalho muito grande, sobre a questão da pontuação na carteira. Nós modernizamos o Código de Trânsito. Quem não tem infração grave ou gravíssima tem direito a 40 pontos na carteira. Às vezes o motorista perdia a carteira por infrações leves, de estacionamento irregular.

Hoje se um infrator de trânsito tiver uma infração gravíssima, essa pontuação cai para 30 pontos, se ele tiver duas infrações gravíssimas essa pontuação cai para 20 pontos. Automaticamente com os 20 pontos, ele já vai prestar aquele curso de reciclagem. E essas multas são altíssimas, não são multas pequenas. Não tem nada de flexibilização.

Eu que trabalho com trânsito há doze anos, porque vai fazer doze anos da morte do meu filho. Meu filho morreu e no dia seguinte eu já estava lidando com a questão do trânsito, com a mudança de comportamento. Eu sei muito bem o que fiz, tenho clareza do que fiz.

Mas nesse ponto especificamente dos 40 pontos, realmente passa uma mensagem para as pessoas de que elas podem cometer mais infrações.

Não, sabe por quê? Na realidade as multas estão mais severas do que antes. O que eu sugeri? Que essas pontuações leves acabassem, que a gente acabasse com essas pontuações pequenas, essas pontuações leves por estacionar.

Queríamos acabar com isso, mas como a gente não conseguiu, porque tudo é muito burocrático, a gente deu uma carta de confiança ao motorista. Então, não tem assim “ah agora virou festa, pode tudo”. Não pode, as infrações ficaram mais sérias, mais pesadas e as infrações continuam. Quer dizer, as multas continuam.

O que nós temos que fazer, e é necessário isso com urgência, é que a justiça encare as leis como regras. Porque o que ocorre? A lei manda prender, a justiça manda soltar, você sabe muito bem disso, acompanhou minha vida, sabe muito bem como funciona. A mãe que perde o filho vai para Justiça dizendo pelo menos que “eu quero que seja punido”. Ai o que diz a lei? Que quem matou no trânsito embriagado, fazendo racha, usando celular, vai ser preso.

Só que o juiz tem um outro entendimento e diz “não, ele não teve a pretensão de matar, vamos dar mais uma chance”. Então essa leitura que faz com que os infratores cometam as infrações e tenham a certeza que não serão punidos. O viés é outro, uma justiça permissiva em um país que não tem justiça.

A senhora apoia o presidente da República, que defendeu uma tentativa de tirar a cadeirinha das crianças.

Da cadeirinha nós conseguimos reverter. O presidente da República, a mentalidade dele não é só no trânsito. Ele é polêmico, só que prioridades são prioridades. Qual é a minha prioridade? O que eu quero para minha cidade?

“Vai colocar um radar em cada esquina? A senhora vai ser rígida?” Muito pelo contrário, eu quero uma cidade humanizada e o fato de humanizar uma cidade é educar uma cidade, é fazê-la consciente. Campanhas permanentes, educativas, campanhas que sejam diárias, exaustivas até. São essas que fazem mudar o comportamento das pessoas, elas começam a enxergar o que não viram antes.

Só retomando, a senhora não vê uma dificuldade de conciliar essa sua bandeira do trânsito, da saúde do trânsito, com um presidente que prega exatamente o contrário disso?

Não, eu sou base do governo, compreendo que se sou um gestor que tenha passe livre entre Governo Federal e Governo Estadual, eu consigo trazer para o município aquilo que o município precisa. Se eu não estiver alinhada com o governo, eu não consigo trazer para o município aquilo que eu quero. Eu trouxe mais de R$ 323 milhões ao Estado do Paraná. Mais de R$ 80 milhões foram para Curitiba porque eu estou alinhada, sendo base.

Na hora que falta o alimento, a pessoa nem quer saber se você é de esquerda ou se é direita, na hora que a porta do postinho está fechada, quando o hospital não tem vaga, ninguém quer saber quem é de esquerda ou de direita. Eu estive com a presidente Dilma, estive com o presidente Temer e estou com o presidente Bolsonaro. Por quê? Porque o meu povo precisa!

O dinheiro precisa chegar na ponta. Como chega na ponta? Sem essa discussão terrível do sexo dos anjos, “esse”, “aquele”, esquerda ou direita. Eu tenho certeza absoluta que aqueles que foram beneficiados pelos R$ 323 milhões que eu trouxe para o estado hoje me agradecem.

Como reverter a vantagem do prefeito nas eleições?

As urnas só falam quando as pessoas votam. Eu sou prova disso. Meu nome não aparecia em nenhuma eleição na primeira pesquisa. Eu fui a mais votada do estado!

Quero participar no Congresso da Reforma Tributária. Mas o mais importante é a Reforma Tributária Municipal, que vai acontecer aqui. Nós teremos um ano de 2021 extremamente austero, teremos que enxugar a máquina pública, não tem saída. Qualquer que for o gestor terá que ter essa visão, enxuga a máquina pública principalmente na questão dos comissionados, o que é um absurdo, nós temos ai quase R$ 600 mil por mês que são pagos a comissionados.

Uma questão também são as secretarias, são 28. Vamos enxugar para 15 secretarias. Porque é um momento em que as pessoas precisam reconhecer que temos que cuidar de gente, de pessoas. A cidade está pronta, está linda, mas nós temos que cuidar de pessoas.

Vou fazer um testemunho. Você sabe que eu fui empresária por 30 anos. Um dia comprei um forno maravilhoso. E os (funcionários) me olharam como se não tivessem gostado e eu perguntei “o que aconteceu?”. Eles não precisavam de um forno, precisavam de espatula, tesoura, faca e colher.

Menos de um décimo do que eu gastei com o forno, que era o valor de um carro, eu compraria esse material. Mas como eu não ouvi a ponta acabei tendo um gasto desnecessário.

Então, a realidade é que a gente pode sim ter uma cidade muito mais humana, que atenda as necessidades do seu povo. Temos que ouvir quem está lá na ponta.

A senhora deu umas declarações sobre mudar o tipo de imposto que as pessoas precisam pagar. Isso é possível de ser feito pela prefeita?

Não, o que estamos sugerindo é uma repactuação tributária e financeira municipal.

Nós temos uma questão muito séria com as creches. Eu sempre digo que é loucura quem diz que vai construir novas creches, novos viadutos, não há recurso para isso. A Prefeitura não tem dinheiro. Estamos ainda em pandemia, as pessoas se esquecem disso. No ano de 2021, os recursos federais virão para a saúde. Nós vamos precisar colocar dinheiro para as vacinas, e não é pouco.

Essa é uma gestão que vai enxugar a máquina pública para que a gente consiga com o dinheiro que sobrar investir em pessoas. Na saúde, por exemplo, existe a possibilidade de apresentarmos um projeto ao Ministério da Saúde, onde a gente consegue ter um posto 24 horas,. Aqui em Curitiba nós conseguiríamos ter até três postos nas regiões mais populosas. Esse dinheiro vem do Ministério da Saúde.

Nós temos uma outra questão que é de como vamos gerar vagas para as creches. Mas é simples. Nós temos vários micro, médios empresários com as suas escolas, ensino infantil, que estão com as portas fechadas. Eles ficaram devendo muito, inclusive para a Prefeitura. Então essa repactuação entra bem ai. Nós vamos conversar com eles e vamos oferecer para a mãe a vaga ociosa dessa escola.

A vaga tem que ser próximo da sua casa, próximo do seu serviço e aumentando o horário de atendimento até ás 19 horas. Isso é um problema sério, as creches encerram o seu atendimento às 17h30. Ou seja, a mãe vai e trabalha, muitas vezes já encerrou atendimento da creche e tem que ir pedir para a vizinha buscar, para outra criança ir buscar uma criança e a mãe fica sempre apreensiva.

Nós temos esse olhar que é um olhar de mãe, é diferenciado, é visão de nação, é olhar para tudo e onde pode ser feito se a gente olhar para a máquina pública.

Esses convênios com escolas públicas já existem. O que a senhora mudaria?

Sim, existe mais essa reclamação, essa é uma! Eu atendi esses profissionais, esses proprietários dessas escolas e eles falam que o pagamento desse convênio é muito pouco, eles não têm interesse. Porque o que a Prefeitura paga não dá para um mínimo, com a troca de fraldas, alimentação, um atendimento porque eles tem que dar todo um atendimento a essa criança, no mínimo essa criança custaria R$ 1,2 mil

Nós vamos propor um pagamento de R$ 1 mil por essa vaga ociosa e esses R$ 200 que eles tanto pedem vamos repactuar dentro dessa questão tributária. Ele vai poder sim descontar isso para que a gente possa ter essas vagas que estão ociosas. É uma quantidade boa, temos ai mais de 4 mil crianças esperando vagas e temos muitas escolas fechadas, que fecharam agora com a pandemia e pretendem reabrir.

Existem seis mil alunos do Fundamental que saíram da escola particular por falta de dinheiro, O que dá pra fazer?

Tem que readequar, porque temos muitas escolas em que as salas de aulas estão completamente abandonadas. Chove dentro, tem buraco, a manutenção está horrível. Nós vamos cuidar disso. Vamos ter um contraturno, vamos conversar com nossos técnicos para que a gente consiga adequar e ajudar. A construção de novas escolas é inviável, não há recurso.

A Prefeitura tem adotado uma estratégia de terceirizar as UPAS. O que a senhora pensa disso?

pE necessário rever os contratos porque são contratos as vezes que não são justos para a população de Curitiba. Só a questão da valorização do funcionário público já dará também um up no atendimento dentro desses locais, nos postinhos de saúde. Eles serão mais capacitados.

Vamos qualificar esse trabalho e olhar para pessoas, o que nós vemos é muito difícil porque a própria pessoa que está atendendo às vezes está doente. É muito duro um funcionário de carreira ver um comissionado que está chegando e ganhar três vezes mais. Como ela vai se doar? O que nós queremos é valorizar esse funcionário de carreira.

Sobre a terceirização temos que rever os contratos, não tem saída. Tem que sentar e rever todos os contratos e ver o que realmente é preciso para a cidade.

O que a senhora acha da gestão Rafael Greca na crise do coronavírus?

Veja, tudo é uma questão de prioridade. Cada gestor tem as suas prioridades. Eu não posso criticar o Greca de maneira alguma, mas são prioridades. Eu pegaria os R$ 200 milhões que ele pegou e investiria no micro, pequeno e no médio empreendedor. O empresário é o que mantém a cidade aberta. São os empregos que mantêm a cidade fluindo.

Uma cidade que não oferece empregos fecha as portas, não consegue crescer. Eu investiria nisso, mas é uma prioridade minha, a prioridade dele foi a questão do transporte. Então é muito difícil criticar alguém porque eu sei que nenhum gestor no mundo esperava uma pandemia. Eu acredito que todos tinham seus planos diretórios encaminhados para aquilo que eles queriam para as cidades.

Aqui nós entramos numa seara muito delicada, onde muitos recursos que eram de outros setores da cidade acabaram sendo encaminhados para a saúde. Você sabe que povo doente não quer trabalhar, não quer estudar, ele quer ficar são. Povo doente está em casa, na cama, no hospital e não é isso que queremos. Nós queremos uma sociedade forte, saudável, bem alimentada, boa, com saúde e que possa produzir.

A senhora disse que a cidade está pronta. Mas aquelas pessoas que tem problema de sub-habitação talvez pensem diferente. A senhora imagina que apesar da crise consegue fazer esse investimento?

Nesse momento a nossa visão é capacitar as dez regionais para que elas consigam sobreviver o máximo possível. Para que nós possamos fazer uma geração de renda nos 75 bairros, descentralizar Curitiba e nós vamos fazer com que essas regionais possam produzir renda para as pessoas.

Nós teremos ali todo o sábado e domingo a FelizCidade, onde vamos valorizar o artista local, o artesão local, vamos cuidar dessas barraquinhas que estão completamente arrebentadas..

Nós teremos principalmente cursos. Vamos oferecer cursos de línguas, vamos ter recreação, lazer, nós vamos trazer essa população, pois sempre que tem alguma coisa é lá no centro da cidade, sempre na região central, nós queremos que elas possam ter suas vidas e que o comércio local seja valorizado.

A senhora acabou não falando sobre moradia e infraestrutura dos bairros.

Em moradia nós vamos dar preferência as mães chefes de família porque temos visto a quantidade de mulheres que levam hoje nas suas costas o lar. O Governo Federal já é um parceiro, nós vamos conseguir recursos para poder oferecer essas moradias.

Eu vejo que quando a gente cuida de uma mãe que é chefe de família, que é aquela que produz dentro da casa, é importante você dar condições a ela, porque se você der para uma mulher um trabalho ela vai produzir muito bem feito.

Elas são fantásticas, eu nesses últimos dois anos ouvi mais de 16 mil mulheres nesses encontros do PL mulher e posso dizer que foram elas que me convenceram sair candidata à Prefeitura de Curitiba, porque elas me convenceram que eu também poderia cuidar de Curitiba.

O que fazer para amenizar a crise hídrica?

Isso é muito complicado porque não compete à Prefeitura. O que compete é conscientizar as pessoas A Prefeitura pode estar junto, fazendo parcerias com empresários para conseguir as caixas d´água, caminhões pipa.

Qual é o seu plano para o meio ambiente relativo a isso?

Curitiba é uma cidade que desmatou muito, muito mesmo, mas eu digo novamente: ensina o caminho que a criança não se desvia. Tem que ter campanhas para que a gente possa reflorestar todas essas matas, essas regiões que sempre são mais vulneráveis e ensinar a população a cuidar desses lugares.

O que eu quero é trazer essa criança para dentro das usinas de reciclagem e mostrar como esse trabalho funciona. Quero fazer com que as pessoas tenham consciência para mudar esse comportamento,.

A senhora falou em austeridade. O funcionalismo vai ficar sem reposição?

Compreendemos que a cidade precisa ser enxugada, mas vamos ter recurso para cuidar de pessoas. Em primeiro lugar, não vamos ter como investir em grandes viadutos, vamos ter dinheiro para valorizar as pessoas, que é o que elas querem, ser valorizadas. Infelizmente, essa é a situação da educação no estado, é completamente abandonado. Eles se sentem abandonados por todas as gestões.

Nossa pretensão é acabar com os comissionados, nós vamos ter um recurso que pode ser jogado para dentro do funcionário de carreira. Com grupos empresariais eu não tenho amarras, eu posso rever todos os contratos para poder fazer dessa a cidade que nós podemos ver. Eu sou curitibana, nasci aqui. A gente que vive aqui sabe a cidade que nós queremos, um exemplo para o mundo, sempre foi, queremos voltar para isso no futuro.

O que a Prefeitura poderia fazer para evitar o crescimento das favelas em Curitiba?

Saneamento, moradia e educação. A proposta de moradia que temos é poder ampliar isso para valorizar a mãe chefe de família. Para retirar as pessoas das ruas, também temos a solução. Vamos capacitar essas pessoas. Junto com o Governo Federal no Minha Casa Minha Vida, a pode sim lógico, podemos trazer isso.

A facilidade de você se dar bem com o Governo Federal e Estadual é poder abrir portas e ouvir a população é prioridade. Lógico que vamos precisar de mais moradias, mas junto com o Governo Federal eu tenho certeza absoluta que essas portas se abrem, facilita a entrada de recursos para que a gente consiga trabalhar nisso também. Saneamento, ninguém quer mexer porque o saneamento não aparece. Os prefeitos gostam de fazer obras que apareçam.

É necessário sentar com a Sanepar, vamos cuidar do saneamento desses locais. Realmente é assustador, periferia, esgoto a céu aberto. Isso tudo também traz problemas de saúde. Queremos tratar a saúde bucal das pessoas, porque é pela boca que entra a saúde da pessoa. E nós vamos ter em Curitiba um Hospital Veterinário Público, que é um sonho da maioria dos curitibanos

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