“Greca conhece a cidade, mas não conhece as pessoas”, diz Paulo Opuszka

Petista foi o primeiro da série de entrevistas com candidatos a prefeito

O candidato Paulo Opuszka (PT) disse, em entrevista ao Plural nesta segunda-feira (28), que o prefeito Rafael Greca (DEM) poderia ter lidado com a crise causada pela Covid-19 de forma mais eficaz se ouvisse do próprio povo quais são as suas necessidades. “O prefeito conhece a cidade, mas não conhece as pessoas”, diz Opuszka.

O petista abriu a série de 12 entrevistas do Plural com os principais nomes na corrida para a Prefeitura. Além de ter falado sobre a crise da Covid-19, ele abordou temas ligados ao seu partido, funcionalismo público, educação, assistência social e crise hídrica na capital paranaense.

Opuszka é professor de Direito na Universidade Federal do Paraná (UFPR) e está disputando a sua primeira eleição. Foi chefe de gabinete do atual reitor da UFPR, Ricardo Marcelo Fonseca, e é secretário-geral licenciado da APUFPR, sindicato que representa os professores da universidade.

Na conversa com o jornalista Rogerio Galindo, um dos fundadores do Plural, Opuszka afirmou que, se eleito, quer fazer uma gestão com foco naqueles que mais precisam e com ampla participação dos servidores públicos. Para o petista, o seu partido tem capacidade de fazer um debate de alto nível e resgatar a esperança do curitibano.

Leia a seguir alguns destaques da entrevista.

O senhor tem toda uma carreira ligada à política, mas nunca tinha participado de uma eleição. O que o senhor acha que o credencia para aparecer como candidato a prefeito de Curitiba? De onde surgiu essa ideia de disputar a eleição?

Nós estamos vivendo um dos momentos mais difíceis da política de Curitiba, o momento que a gente precisa discutir com qualidade técnica e com pulso firme do ponto de vista da política. Acho que o credenciamento que tenho é poder fazer um debate de alto nível e com os elementos necessários para o momento. Discutir o PT no Brasil; o papel dos servidores públicos; o que uma prefeitura faz para a periferia; como é o projeto para o trabalho e para a renda; e como a gente vai fazer para recuperar a esperança do curitibano.

A gente sabe que uma das coisas que o PT tem feito é defender o partido das acusações que sofreu, mas será que esse é um motivo válido para apresentar um candidato? Será que a esquerda de Curitiba não poderia se unir em torno de um mesmo nome por exemplo?

Eu não acho que o PT tenha feito a candidatura para defender o partido, simplesmente. Em um momento de polarização política, o que está em jogo é o modelo de desenvolvimento que o Brasil teve e tem. Será que a gente tem que ter uma sociedade em que as pessoas são o centro? Ou será que está no momento de a gente discutir uma outra fase do neoliberalismo?

A cidade é indutora de economia e vai dar o rumo da recuperação econômica. Mais do que o legado e o partido, é o modelo de política que o PT defende. É o que está em discussão. Primar pela proteção de quem mais precisa, brigar pelo trabalho e pela renda, defender o Estado e a Previdência, e valorizar os servidores e o povo.

As candidaturas de esquerda parecem estar mais frágeis do que as candidaturas do outro lado, nessas eleições. O prefeito Rafael Greca continua parecendo o favorito nesse momento. O senhor vê pessoalmente que sua candidatura pode chegar a algum lugar?

Você tem certeza que não vê nenhum potencial diferente em candidaturas que estão se apresentando? As candidaturas de esquerda são a oportunidade de discutir a cidade com novidades e métodos novos. Com o Goura, a gente poderia ter apresentado uma coligação e apresentado uma frente com aqueles que vão discutir de forma crítica – no tom que o PT e o PDT têm – a candidatura como uma outra opção.

Toda a conjuntura está mostrando cenários diferentes, ninguém imaginava a desistência das três candidaturas fortes que desistiram. O importante é que os candidatos tenham convicção e coragem de que devem ter uma proposta para governar a cidade e não simplesmente para marcar posição. No nosso caso, nós temos uma proposta para Curitiba.

Vários partidos se preocupam em formar chapas com representatividade de gênero. O PT tem dois homens brancos heteros. Isso não é ruim para o partido tendo em vista o tipo de discussão que vocês defendem?

O PT tem um professor progressista, advogado trabalhista e que vai defender os direitos dos trabalhadores, defender o estado e a Universidade Pública. O PT tem mais de dez candidaturas ligadas ao movimento negro e várias mulheres disputando a campanha. A pauta precisa estar contida com força e no lugar de fala dessas pessoas. Se você ler o plano de governo, vai entender exatamente do que estou falando.

O fato deliberativo, às vezes, faz com que a gente demore para caminhar. Eu não represento ninguém, o partido dos trabalhadores e trabalhadoras vai fazer esse papel. Não acredito que isso possa gerar discriminações de qualquer natureza, até porque a gente não só respeita como estabelece candidaturas com essa força. Você vai notar isso na fortíssima chapa para vereadores com mulheres, negros e negras.

Na chapa de vereadores, a gente vê essa preocupação, mas não na chapa majoritária. Seu vice também é um novato, como surgiu essa chapa?

Pela primeira vez, o PT tem a sensibilidade de que é preciso discutir o novo da política com os princípios antigos, eu acho que isso é fundamental. Voltar ao que foi o princípio do PT, com uma cara nova e com inovação da discussão. O [vice] Pedro Felipe discute a questão da segurança pública com cidadania, direitos humanos e com uma pauta antifascista.

Ele atinge uma classe que, talvez, em outros momentos, a esquerda nunca tenha se preocupado em atingir. Eu represento aquelas categorias que estão do lado do desenvolvimento social com a cara que o PT sempre teve. É necessário olhar para agenda, por isso a gente não pode abrir mão dessa candidatura.

No início dos anos 2000, o PT chegou a ter seis vereadores e hoje só tem uma vereadora. O senhor vê que a Lava Jato e o Mensalão levaram a isso? Como reconstruir o partido nesse momento?

Eu vou responder com uma análise gramsciana sobre a sociedade civil. Curitiba já teve quatro grandes jornais fortes, já teve os partidos fortes discutindo tendências e propostas. Hoje a gente tem um monopólio em relação a uma candidatura da direita. Essa crise não aconteceu só nos partidos, essa crise aconteceu no Brasil e na sociedade civil.

A crise não é política. É crise de sociedade, a gente precisa se recuperar com novas propostas. Hoje, a gente tem um vereador. No final dessa campanha, três, quem sabe quatro. E depois seis. A gente está encaminhando para uma mudança que já está sendo sentida. Em algumas cidades do interior do Paraná, o PT seguiu governando, tem toda uma conjuntura política de arrefecimento da democracia que a gente não pode deixar de levar em conta. Inclusive nesse modo de comunicação a que eu e você estamos nos adaptando. O PT avança e está se adiantando nessa conversa via live.

Desde o 1º de maio, não teve um dia que passou sem que eu fizesse uma live e discutisse um tema de importância para a sociedade. Eu acho que a gente está preparado para fazer um contraponto importante que seja, ao mesmo tempo, opção de nova estruturação. Com desenvolvimento da cidade e retomada da esperança.

No plano de governo do PT, fala-se em destinar 30% do orçamento para educação. Essa proposta existiu na campanha do Fruet em 2012 e nunca chegou a se tornar realidade. De onde vai tirar esse dinheiro para entrar na educação?

Tem que sair de algum lugar, mas existe verba que está prevista dentro daquilo que já é separado pela Legislação Federal. Com as vitórias recentes como a do Fundeb, que mudou o percentual, Curitiba pode cumprir essa meta ao longo dos quatro anos. Existe previsão orçamentária para tanto. Educação é uma das prioridades do PT. Não tenho nenhuma dúvida de que esse é um dos pontos fortes do PT, assim como a saúde e a assistência social – áreas em que o PT, no governo Fruet, respondia pelas secretarias. Não me preocupa isso. Talvez outros arranjos sejam de maior dificuldade devido à atuação dura dos tribunais de conta e dos órgãos de controle. Não vejo dificuldades na aprovação dessa proposta ao longo dos quatro anos.

A teoria econômica diz que a economia é a administração de recursos escassos. Esse dinheiro tem que sair de algum lugar. Tem dinheiro na Prefeitura que o senhor acha que pode ser aplicado em outro lugar? De onde sairia?

Não acho que a economia seja só o uso de recursos escassos. A educação e a saúde devem ser priorizadas em um governo que se diz a favor do desenvolvimento social. Quando o PT se coloca no governo, ele apresenta novas soluções. Existem vários projetos em que o próprio crescimento da cidade pode fazer a diferença. Vou dar um exemplo: se tenho um bom projeto de desenvolvimento e fomento que aproxime a indústria de Curitiba de seus fornecedores, e economizo no transporte e na logística, a sobra vai para algum lugar.

Se o prefeito negociar com o empresariado o destino do orçamento, posso equilibrar relações e fazer um novo projeto de desenvolvimento. A transparência faz a diferença porque as pessoas confiam em seu mandatário. E esse detalhe é fundamental para superar qualquer crise. Não que haja desconfiança com quem está no poder, mas essa coisa do cara a cara, de eu ser a pessoa que tem gabinete aberto, sem demagogia, faz toda a diferença para resolver o problema.

Na última gestão, o plano de carreira dos professores foi congelado. O senhor se compromete a implantar o plano em um momento econômico conturbado como atual?

Fui um dos negociadores do aumento e da mudança salarial desses professores. Participei de todas as fases de implantação desse plano, ele era viável econômica e juridicamente. A escolha do Greca de não implementá-lo é ideológica e tem relação direta com o uso dos recursos, não dá para brincar com o salário de quem é responsável por 70%, 80% da prestação do serviço público.

Se os empresários entendem que temos credibilidade e os servidores confiam em nossa capacidade de negociação. Com meta, direção e transparência, e manutenção de palavra, eu não vejo problema em uma dura negociação para a manutenção dos planos. Salário de professor vai para a economia direta, para o setor produtivo, o que gera mais emprego. É disso que a gente precisa: pessoas com salário na mão para girar a economia.

Um setor estatal muito pesado exige mais impostos. Como o senhor imagina uma política fiscal do PT em Curitiba?

Qual é o setor pesado em Curitiba? Se Curitiba tem 68% de serviços, o que sobra de setor produtivo? Em uma análise micro, o prefeito induz a economia e atrai o empresariado para dentro da economia. Quando o prefeito coloca uma pauta clara de onde vai aplicar o recurso e quais portas serão abertas do ponto de vista empresarial, isso tem que estar bem claro para atrair investimento público e privado.

O senhor falou que não há setores pesados, mas o IPTU para a classe média-baixa é pesado, não?

O IPTU é pesado. A classe trabalhadora paga mais pesado por um modelo federal, mas IPTU tem retorno. As pessoas não reclamam de pagar imposto em Curitiba, elas podem até reclamar, mas elas pagam. Não é a inadimplência que cresce, é uma sensação de mau uso desse recurso, muito mais a forma do que essas mudanças específicas. O prefeito deve encarar essa questão. Não é do PT que vai vir a discussão por menos impostos. Em crise, é o serviço público que recupera a economia. E depois é a retomada que vai recuperar o estado.

Vocês vão retomar as unidades de saúde que estão sendo terceirizadas? Como fazer isso juridicamente?

Primeiro ponto é reabertura daquilo que é estrutura do estado. Segundo, é a viabilidade daquelas parcerias que vão aparecer, terceiro ponto é a valorização do Sistema Único de Saúde, que nunca foi tão necessário como agora. Precisamos ouvir os profissionais da saúde e os técnicos que sabem fazer esse gerenciamento. Tem algo que precisa ser valorizado em Curitiba, que foi uma grande vitória em que o PT teve participação – a retomada dos conselhos. O dia que você quiser saber qual é o problema na saúde, procure os conselhos municipais e distritais, ali está a efervescência dos problemas e o PT conhece a realidade do povo.

Um dos pontos que será de grande discussão é a licitação do transporte coletivo. Qual é a proposta do PT para esse assunto?

Está na hora de pensarmos em novos modelos que outras cidades já estão implementando – como melhorias de acesso das ciclovias, incentivo às bicicletas, incentivo para que as pessoas caminhem até os seus trabalhos.

Segundo, é o enfrentamento nas decisões políticas tomadas em relação ao transporte, o problema não é tomar uma decisão, o problema é não consultar a população ou fazer às escondidas. A população cobra. Já teve prefeito que foi eleito em Curitiba por denunciar a formação de cartel e oligopólio.

A crise veio com força e não tivemos propostas de recuperação daqueles que fundaram startups ou que têm pequenos comércios. O enfrentamento da discussão vai se dar pelo prefeito e também vai se dar pela Câmara, tem que ter coragem e proposta para o enfrentamento.

Não foi só um problema de Curitiba e nem do nosso estado. Várias cidades grandes e metropolitanas vivem uma crise relacionada ao transporte. Já poderia haver um novo modal – que engatou em questões jurídicas, que passam por corporativismo, decisões judiciais, novas propostas a serem pensadas e por corrupção, até porque a gente não pode tapar o sol com a peneira.

Esse problema é metropolitano porque a gente tem integração e repasses do governo do Estado. O prefeito eleito vai ter que discutir com outras instâncias de poder. A gente precisa mais do que apenas os recursos que a gente tem. Mas, em primeiro lugar, a população precisa opinar sobre o que quer nos seus modais e pôr o transporte para funcionar.

O que um prefeito de Curitiba poderia fazer para amenizar a atual crise hídrica que afeta tanto a vida das pessoas?

Como posso ter um posicionamento para água se tenho dúvidas sobre a privatização da Sanepar? Sou contra a privatização desse serviço. Se for privatizado, a crise vai aumentar. Curitiba tem corpo técnico para passar por isso, mas terá que fazer integração com a região metropolitana. Não se discute água no município sem passar pelos órgãos e estruturas de poder. Vencer a crise hídrica é uma necessidade do estado.

Em um governo federal que fala em passar a boiada, a questão se torna bastante complexa, alguém precisa fazer a defesa da água, da sua necessidade como direito fundamental. Água, energia e internet são questões de planejamento. Sem planejamento, a gente não alcança soberania, não alcança economia e liberdade.

O que o senhor faria de diferente do prefeito Rafael Greca no combate ao coronavírus? O que o senhor imagina caso seja eleito?

Agora, a gente tem pouca coisa para fazer diferente, as principais cidades enfrentaram o corona com um lockdown pesado de 60 dias no começo. Minha crítica vai na opção de escolha de combate ao coronavírus. Isso, piorado por uma postura despreocupada e irresponsável do governo federal, acabou gerando um número violento de mortes e contaminações. Em especial, o número de contaminações na classe trabalhadora, profissionais de saúde e professores de escola.

É importante a gente recuperar um projeto vinculado a história de Curitiba. A gente se espanta no que podemos analisar com a história da cidade. Temos algo em comum, queremos amar e desenvolver uma Curitiba que pode ser cada vez mais uma Curitiba da gente. O problema do prefeito é que ele não conhece as pessoas. O prefeito conhece bem a cidade, mas o problema é que ele não conhece as pessoas. O prefeito não conhece nem os servidores com maior potencial na equipe dele.

É o povo que vive as mazelas da cidade. Se eu fizer com que todos possam ser ouvidos para participar, a gente supera a crise. Nós somos o povo e a responsabilidade é todos. É uma tarefa da política devolver a responsabilidade para o povo, quando o povo decide, a sabedoria vem e a gente toma a melhor decisão.

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