Como é se descobrir bissexual depois de adulta? A redatora Priscis Schip e a designer Alexandra Arévalo, ambas moradoras de Curitiba, estão entendendo juntas e compartilhando a experiência – que é mais comum do que muita gente imagina – em um projeto independente chamado Localização Perdida, disponível no Instagram.
A partir de cenas cotidianas transformadas em quadrinhos, elas criam representatividade e discutem assuntos complexos como a heteronormatividade compulsória. Esse não é o único espaço onde elas se encontram para discutir bissexualidade. As amigas também falam do tema no YouTube, mas é no Localização Perdida que elas se sentem em casa, esbanjando talento em suas especialidades: texto e ilustração.
Para marcar o Dia da Visibilidade Bissexual, o Plural bateu um papo com a dupla.
Podem nos contar um pouco mais sobre a proposta do Localização Perdida?
Nós duas temos em comum não só a bissexualidade, mas a descoberta da identificação já em nossa fase adulta. Esse “atraso” se deve muito à falta de representatividade: bissexuais não são vistos, não falamos sobre bissexualidade, então nossa identificação, assim como de tantas outras pessoas, acabou sendo tardia. A proposta do perfil é ampliar essa visibilidade sobre a bissexualidade, mas também mostrar justamente essa possibilidade: de se descobrir bi já adulta. Além disso, a personagem do perfil, além de ser bissexual, é uma mulher bastante crítica politicamente, então esses temas acabam aparecendo nos quadrinhos.
Como vocês abordam as subjetividades da bissexualidade?
A partir de cenas do dia a dia: uma lembrança, um telefonema. Nessas situações, nossa personagem fala sobre si. Um tema recorrente é a dificuldade em flertar com mulheres, já que ela foi socializada para se relacionar com homens. E mesmo que pareça meio banal, fazemos questão de inserir elementos teóricos/históricos como, por exemplo, o conceito de heteronormatividade compulsória da Adrienne Rich, e o mesmo vale para posts que celebram datas importantes da comunidade LGBTQIA+. Mas fazemos isso com uma linguagem coloquial, a ideia é justamente trazer esses elementos de maneira mais acessível.
O que as inspira a criar?
Em primeiro lugar, com certeza, a nossa própria vivência. Desde o desconforto que é ser bissexual em nosso mundo até o olhar atento e crítico sobre o cenário político que nos cerca. Aí tem as cenas do cotidiano, dos relacionamentos… Estar no Tinder pode ser bastante inspirador para o Localização Perdida!
Pessoalmente, o que o projeto significa para vocês?
O Localização Perdida é um projeto criado a quatro mãos por duas amigas que se sentiram por muito tempo perdidas em suas sexualidades. É pessoal (e político também, vai) e afetivo criar uma personagem que vive histórias tão parecidas com as nossas. Queremos proporcionar representatividade, gostaríamos de ter esbarrado em histórias assim durante a nossa vida. E, claro, poder criar essa representatividade a partir do nosso trabalho artístico é ainda mais especial.