Vacinas contra Covid-19 em Curitiba são promissoras?

Duas foram autorizadas pela Anvisa e estão em teste na Capital; outras duas aguardam liberação para fase 3

Curitiba pode deixar sua marca em pelo menos quatro das nove vacinas contra a Covid-19 que já estão em etapa adiantada de estudos clínicos pelo mundo. As mais avançadas por aqui são as que tiveram os ensaios aprovados pelas instâncias reguladoras brasileiras. Uma delas é a CoronaVac, produzida na China pela farmacêutica Sinovac Biotech, em parceria com o Instituto Butantan, de São Paulo. Outra, a da Janssen-Cilag, divisão farmacêutica da europeia Johnson&Johnson que começa os estudos na Capital na próxima semana.

Além dessas, mais duas vacinas, ainda sem a fase 3 aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), podem ter voluntários em Curitiba, quando autorizadas. A mais aguardada é a russa Sputnik V, no centro de um acordo fechado exclusivamente entre o Paraná e a Rússia. O governo do Estado também estuda acordo com o laboratório chinês Sinopharm.

CoronaVac

Por enquanto, é a CoronaVac que lidera a corrida entre os estudos feitos na Capital. Os testes com 850 trabalhadores da saúde começaram no dia 3 de agosto no Complexo Hospital de Clínicas (CHC) da Universidade Federal do Paraná (UFPR), um dos doze centros de pesquisa brasileiros selecionados para receber as doses. Alguns dos participantes já receberam, inclusive, a última das duas aplicações exigidas pelo protocolo do imunizante

Entre o grupo, metade dos participantes recebeu a vacina, feita com o vírus inativado quimicamente. Na outra metade, foi aplicada uma dose placebo, sem efeito. Nenhum dos voluntários sabe o que recebeu, mas todos serão acompanhados clinicamente até dezembro de 2021 pela equipe do CHC para que seja possível identificar quem desenvolveu anticorpos ou sintomas de Covid-19.

No total, serão nove mil testados em todo o Brasil. Além de Curitiba e São Paulo, os exames estão sendo conduzidos também no Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Distrito Federal. Até final de setembro, todos já terão recebido a segunda dose da vacina.

Apesar do prazo de monitoramento longo, há expectativas de que o imunizante seja disponibilizado bem antes no Brasil. Na semana passada, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, adiantou que as análises sobre a a eficácia da vacina começam em outubro e que, até dezembro, o instituto disponibilizará 46 milhões de doses para o Ministério da Saúde.

A gigante Sinovac Biotech também já divulgou que a CoronaVac foi eficaz para 98% dos voluntários com mais de 60 anos testados nas duas fases anteriores, em menor escala. Caso os resultados se comprovem favoráveis, Butantan e Sinovac devem fechar acordo de transferência de tecnologia para produção da vacina em larga escala no país, com abastecimento gratuito para o SUS.  

Johnson&Johnson

Quarta a ter os ensaios clínicos liberados pela Anvisa, a vacina experimental da Janssen-Cilag, divisão farmacêutica da europeia Johnson&Johnson, começa a ser testada na próxima semana em Curitiba.

Os estudos serão conduzidos no Hospital Nossa Senhora das Graças (HNSG) e coordenados pelo infectologista Clóvis Arns, médico do HNSG e presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Ainda não há detalhes, mas já se sabe que os voluntários receberão uma dose única da vacina ou placebo.

No Brasil, serão sete mil testados. Além de Curitiba, haverá centros de pesquisa distribuídos em São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Norte.

Foto: Pixnio/CC

Sputnik V

Envolta em polêmicas, a vacina Sputnik V, produzida pelo instituto russo Gamaleya, também poderá ter voluntários em Curitiba. Responsável pelos ensaios no Estado, o Instituto de Tecnologia do Paraná (Tecpar) pretende começar a testar 10 mil pessoas até outubro, embora os centros da pesquisa ainda não estejam definidos.

De acordo com o órgão, Curitiba pode ser incluída na fase de testes se forem fechados acordos de cooperação com hospitais públicos da cidade. A aplicação será com duas doses, preferencialmente para trabalhadores da área da saúde, mas há chances de incluir voluntários do grupo de risco, como idosos.

Contudo, a Sputnik V ainda não tem autorização para ensaios no Brasil. Nesta quarta-feira (16), o Tecpar informou que os documentos que serão submetidos à Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) ainda estão em fase de elaboração, com previsão de submissão até o fim de setembro.

Os trâmites incompletos deixam o imunizante russo para trás na corrida de testes em Curitiba. “Sem dúvida nenhuma, a Sinovac está mais adiantada [que a Sputnik V]. É claro que é imprevisível porque vai depender muito da quantidade de desfecho, e o desfecho, nesse caso, é pegar Covid. Mas, neste momento, a vacina do Butantan e Sinovac está na frente”, avalia o farmacêutico e bioquímico Sergio Surugi de Siqueira, professor de Imunologia do Curso de Farmácia e colaborador do Programa de pós-graduação em Bioética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná́ (PUCPR).

Membro titular da Conep, uma das instâncias de liberação dos ensaios clínicos do Brasil,  Siqueira acredita que ainda é cedo para afirmar se a vacina russa poderá começar a ser aplicada já no início do próximo ano. A intenção do Tecpar é que o Paraná comece a importar doses a partir de janeiro.

“É possível importar a vacina russa em janeiro? É possível, mas é difícil dizer porque o protocolo [de autorização] ainda nem está pronto para ser enviado às agências. Hoje a Anvisa e a Conep estão analisando com muito mais rapidez, autorizações que saíam em 60 dias estão saindo em 4 dias. Mas tudo vai depender do ensaio clínico, do número de casos detectados”, observa o especialista.

Sinopharm

O Tecpar informou ainda estar em tratativas iniciais com a chinesa Sinopharm para testar e, futuramente, produzir a vacina elaborada pelo laboratório.

Ainda não há mais detalhes, por se tratar de um acordo em fase inicial. No entanto, o governo do Paraná já expôs a intenção de incluir o Estado na fase 3 de testagem do imunizante, que começou em agosto nos Emirados Árabes Unidos, com a participação de 15 mil voluntários. A Sinopharm diz ter tido 100% de eficácia, sem reações graves, nas duas primeiras etapas dos ensaios.

Foto: Cottonbro/Pexels.

Segurança das vacinas

Uma série de dúvidas sobre a eficácia da Sputnik V se alastrou entre a comunidade científica tão logo a vacina foi anunciada. Em 11 de agosto, o governo russo surpreendeu o mundo ao registrar o primeiro imunizante contra a Covid-19 antes mesmo de divulgar as respostas das fases 1 e 2, que só foram compartilhados em público no início de setembro. O acordo do governo do Paraná com o Instituto financiador da vacina na Rússia, o Gamaleya, foi fechado ainda em agosto.

Contudo, os resultados mostraram que o imunizante é capaz de produzir anticorpos sem provocar reações graves, e é sobre isso que o Conep e a Anvisa terão que se debruçar para autorizar o início dos ensaios no Paraná.

“Todos os testes clínicos com vacina no Brasil passam por duas análises muito rigorosas antes de serem autorizados. Primeiro com a Conep, que vai investigar para ver se não acarreta aos participantes mais riscos que benefícios. Em outra instância, a Anvisa analisa os aspectos mais técnicos”, explica Siqueira. “Quando o ensaio clínico de uma vacina ou de um novo medicamento é autorizado por essas duas instâncias, existe uma certa segurança de que há menos riscos e mais benefícios”, reforça.

Até agora, não há relatos de efeitos possivelmente desencadeados pelos testes das vacinas que já estão sendo, ou que podem vir a ser, testadas em Curitiba.

A primeira vacina contra Covid-19 a ter autorização para testes no Brasil, produzida pela Universidade de Oxford, na Inglaterra, em parceria com a farmacêutica AstraZeneca, chegou a ter os testes suspensos na semana passada por causa de um possível efeito colateral, descartado logo em seguida. A vacina britânica, no entanto, não é testada na Capital.

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