Sindicato cria sistema para monitorar Covid-19 nas prisões do PR

Entidade aponta 59 policiais penais e 236 presos com a doença. Mapa foi criado após falta de informações oficiais sobre a doença nos presídios

O Sindicato dos Policiais Penais do Paraná (Sindarspen-PR) lançou nesta semana um Mapa de Monitoramento para prevenção do coronavírus nas unidades penais do Paraná. A ideia é que o sistema seja alimentado sempre por dados contabilizados por integrantes da própria categoria, que fazem isso por meio de canais específicos de Comunicação com a entidade.

A coleta de informações é feita junto a grupos de policiais penais de cada unidade prisional. O levantamento é realizado por meio de respostas a questionários enviados pelo sindicato a cada sete dias. Entre os dados disponíveis por penitenciárias estão: disponibilidade de água e sabão, Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), suspensão de visitas, de trabalhos interno e externo (não essenciais), treinamento, local para isolamento, triagem e também casos suspeitos e confirmados de Covid-19 entre servidores ou presos.

Em entrevista ao Plural, o diretor-presidente do Sindarspen, Ricardo Carvalho Miranda, afirmou que a iniciativa veio porque o sindicato acredita que falta transparência do governo do Paraná na divulgação de dados do coronavírus nas prisões. Segundo ele, a entidade têm tido mais agilidade no recebimento das informações. “A categoria fez o questionário em razão da falta de transparência do governo do estado, que falava que ia divulgar e nunca fazia isso”, diz.

No primeiro levantamento, o Sindarspen mostrou que haviam 59 policiais penais contaminados com o coronavírus, além de 41 casos suspeitos da doença. Entre os presos, são 236 casos confirmados e 22 com sintomas e suspeita da doença. Três policiais penais estão internados na UTI.  Até quarta-feira (8), 421 policiais penais e 115 presos haviam sido testados para Covid-19.

Foto: Sindarspen

Depen tem dados diferentes

Os dados do sindicato são diferentes do que é contabilizado pelo Departamento Penitenciário do Estado do Paraná (Depen). O Plural pediu uma atualização dos dados oficiais, que sinalizaram um número mais baixo de contaminados. Segundo o Depen, até 7 de julho, 223 presos testaram positivo para a doença, sendo que 144 deles estão recuperados. Entre os servidores, foram 45 casos confirmados e três recuperados. Nenhuma morte foi registrada.

A maior parte dos infectados está na regional de Curitiba, que tem 18 servidores com a doença. Maringá está em segundo lugar com 14, Francisco Beltrão tem 5, Londrina e Cascavel têm 3 infectados cada e Foz do Iguaçu está com 2 policiais contaminados com a Covid-19.

De acordo com Ricardo, a divergência se dá porque o Sindarspen pega a informação “direto do chão de fábrica”, com uma comunicação dinâmica entre agentes penais, que avisam um ao outro se forem constatados como suspeitos ou contaminados pela Covid-19.

Transmissão familiar

O presidente do sindicato sustenta que a situação dos policiais penais está bem complicada com a recente alta de casos nas prisões. Segundo ele, quando o profissional volta para casa depois do dia de trabalho, acaba expondo seus familiares ao risco de contágio. “Eles estão se sentindo até culpados por poder levar essa doença para os familiares.”

Na manhã desta quinta-feira (9), o pai e a esposa do policial penal Sérgio Cesar Scrobot, lotado na Penitenciária Estadual de Piraquara, morreram em razão de complicações causadas pela Covid-19. Alberto Scrobot tinha 74 anos; Ana Maria Isidoro Machado, 48.

Ricardo argumenta que já fez pedidos para que o Governo do Paraná abrisse um espaço como hotel, para evitar o retorno dos policiais para a residência. Em resposta, o Executivo sustentou que seria inviável por conta da queda da arrecadação do Estado, que não teria como arcar com essa despesa. O sindicato também está pedindo para que o Administração Pública pague a promoção atrasada que estaria devendo para mais de mil policiais penais.

Protestos por transparência

Em 18 de junho, familiares de presos protestaram, em frente ao Palácio Iguaçu, em Curitiba. O número era pequeno mas a intenção foi não provocar aglomerações. O objetivo foi conseguir informações sobre os detentos, já que desde o início da pandemia, em março, as visitas nos presídios estão suspensas.

Na ocasião, o mutirão carcerário também já tinha deixado de ser realizado em razão da Covid-19. Esses eventos servem para verificação de processos dentro das unidades penais.

Na segunda-feira (6), um grupo de familiares de presos protestou no bairro Alto da Glória, também em Curitiba. Batizado de “Caminhando pela Justiça” eles pediram mais informações e melhores condições para os presos no Estado.

Foto: Plural.Jor

Na frente da Estação Tubo Maria Clara, nas proximidades da avenida João Gualberto, o protesto teve a intervenção da Polícia Militar, que abordou os manifestantes no meio do ato. Ninguém foi preso mas houve relatos de violência policial.

Depen responde

O Departamento Penitenciário do Paraná (Depen) informou que emite um boletim diário, às 19h, com os casos confirmados e suspeitos em todas as unidades, penitenciárias e cadeias públicas.

Os números podem ser acessados por meio do portal criado pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que monitora semanalmente os estabelecimentos penais de todo o país, incluindo o Paraná. “Os dados trazem registros atualizados de casos de contágio entre presos e servidores.”

Em nota, o Depen ressalta que, “apesar de ter a quinta maior população
carcerária do país, é um dos estados com menor número de casos
confirmados”.

Quanto à testagem, o Departamento Penitenciário afirma que testes rápidos para Covid-19 foram distribuídos em todas as regionais. “Entre presos e servidores do sistema prisional do Paraná, já foram feitos mais de 1,5 mil testes, entre rápidos e moleculares.”

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