Mortes em casa aumentam 18% em Curitiba

Dados foram registrados em março e abril. Óbitos por doenças respiratórias subiram 20%

Mais residentes de Curitiba estão morrendo em casa durante a quarentena da covid-19. Dados do Registro Civil apontam que nos meses de março e abril deste ano houve 343 falecimentos domiciliares na cidade, um aumento de 18,6% em comparação ao mesmo período de 2019, que somou 289 casos.

“Por que esse número aumentou? Sem dúvida alguma, as pessoas estão mais reservadas em casa e esse não deslocamento pode ter contribuído”, avalia médico Alcides de Oliveira, diretor do Centro de Epidemiologia da Secretaria de Saúde do Estado do Paraná (SESA).

O profissional explica que essas mortes geralmente estão ligadas a doenças do aparelho circulatório, neoplasias, doenças neurológicas e as chamadas causas externas, como acidentes, homicídios e suicídios.

“Provavelmente pelo receio de se deslocar até o serviço de saúde e pela característica do estado avançado de determinadas doenças, essas pessoas acabaram falecendo em casa”, diz. “As doenças do aparelho circulatório, como infarto e derrame, podem ocorrer sem assistência por efeito da própria característica da doença, ou seja, são fulminantes.”

Doenças respiratórias

Quanto às mortes residenciais decorrentes de doenças respiratórias, os dados do Registro Civil registram um crescimento de 20,3% em março e abril de 2020. São 65 casos, enquanto no ano passado, no mesmo período, foram 54.

Dados que Oliveira contesta com informações do Centro de Epidemiologia. O setor registrou 40 mortes domiciliares por doenças respiratórias no primeiro quadrimestre de 2019, enquanto em 2020 houve uma redução para 29 casos.

O que ocorre, segundo ele, é que no Registro Civil constam as certidões de óbitos registradas em cartório. Mas todos esses documentos são enviados ao Centro de Epidemiologia, logo em seguida, para investigação da real causa da morte.

“O que o médico declara, não necessariamente é o motivo do óbito. As causas são mal definidas na declaração. O Centro de Epidemiologia faz esse trabalho há mais de 20 anos. A nossa equipe tem um médico codificador de doenças”, afirma.

O profissional esclarece que existem códigos da Classificação Internacional de Doenças que não denotam a causa básica do óbito, são apenas “diagnósticos sindrômicos”. 

“O primeiro sinal que se observa no paciente descompensado do diabetes é o cansaço, o aumento da frequência respiratória. Pode-se colocar que ele morreu de insuficiência respiratória. Olhando assim, parece que é um quadro pulmonar, mas na verdade ele não morreu por causa de uma doença respiratória e sim em decorrência de um distúrbio metabólico que levou ao quadro respiratório”, exemplifica.

O papel do Centro Epidemiológico é, portanto, verificar o histórico do paciente e “qualificar a informação”, nas palavras do diretor. “A certidão pode permanecer igual ou ser alterada após a análise. O Registro Civil é um indicador de entrada de óbitos, mas não é o diagnóstico final”, destaca. “Não estão ocorrendo mais óbitos por doenças do aparelho respiratório na cidade, de maneira geral”, assegura.

A assessoria de imprensa da Secretaria de Saúde acrescenta que, no momento, todos os óbitos de pacientes com histórico de quadro respiratório são investigados para descartar a possibilidade de infecção por coronavírus, incluindo coleta de amostras de material respiratório. “Além dos 35 óbitos confirmados até agora, a Secretaria já investigou 240 mortes por suspeita de covid-19, sendo 238 descartadas e duas em investigação.”

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