Não é preciso testar todos, diz pesquisador

Telemedicina será fundamental para lidar com casos amenos, adianta biólogo responsável por testes do covid-19

Mesmo com a chegada de testes rápidos e a ampliação da capacidade de testagem com os kits atuais, o Brasil não terá como testar amplamente suspeitos de contrair a covid-19. A avaliação é do biólogo Fabricio Klerynton Marchini, do Instituto de Biologia Molecular do Paraná (IBMP). Foi a equipe dele que, ainda em janeiro, começou a trabalhar junto com outra equipe da Fiocruz no Rio de Janeiro para que o país tivesse um kit de exame de detecção da doença antes mesmo dela chegar por aqui.

Não se trata de má vontade ou desinteresse, mas a condição peculiar da pandemia causada por um novo vírus e que se espalhou rapidamente por todo o mundo. A velocidade de transmissão de um país para outro fez o processo de desenvolvimento de testes e protocolos de atendimento e diagnóstico ser acelerado.

A pressão exercida pela transmissão rápida do vírus e a gravidade da situação dos pacientes mais graves, exige “decisões racionais”. “O número de testes está sendo ampliado, mas nem todos precisam ser testados porque não existe capacidade e a prioridade de uso de recursos é para o atendimento médico”, explica.

Ou seja, a grande maioria dos casos, cujo percentual é estimado pela literatura já publicada sobre a doença em 80 por cento, será de pacientes assintomáticos ou com sintomas leves. “Por isso a grande importância da telemedicina, que atende esse paciente sem sobrecarregar hospitais”, indica.

Os hospitais, leitos, médicos e exames ficam para os 20% que apresentam as manifestações mais graves da doença. “Qualquer análise do cenário tem que levar em consideração isso”, alerta.

Em bom português: o número de infectados é maior que o de casos confirmados, mas provavelmente são casos com manifestação leve que idealmente devem ser atendidos à distância, poupando recursos para quem vai ter complicações graves. Estes também devem observar a quarentena para evitar contaminar outros.

Testes rápidos

O biólogo explica que os testes rápidos comprados da China não substituem os exames RT-PCR feitos até o momento. “O contexto desse teste é diferente. É um exame que detecta anticorpos e que depende do paciente ter tido uma resposta imunológica ao vírus”, detalha.

Na prática, isso significa que não se trata de uma opção adequada para pessoas que acabaram de se expor ao vírus. Especialmente nos dez primeiros dias após a contaminação o teste pode não ser capaz de detectá-la. “Um teste de qualidade precisa ser aplicado dentro do contexto previsto”, reforça.

A principal vantagem do exame rápido tem a ver com algo que ainda não está totalmente confirmado: a possibilidade de quem já foi contaminado ter se tornado imune ao vírus. “Se isso se confirmar, o resultado positivo em um teste rápido de qualidade indicará que essa pessoa está imune a doença”, antecipa.

No entanto, no momento os testes que estão chegando ao Brasil foram avaliados de forma limitada e o esforço dos centros de pesquisa será de analisar a qualidade desses recursos. Essa tarefa ficará principalmente a cargo de uma das unidades da Fiocruz, o Instituto Nacional de Controle de Qualidade em Saúde (INCQS), no Rio de Janeiro.

Precisão

Marchini diz que o teste RT-PCR é preciso, mas que não há como incluir no cálculo de eficiência de nenhum exame fatores que estão fora do controle do processo. No caso, a coleta, manuseio e transporte das amostras. Há também a chance de alguns vírus que estejam circulando no Brasil terem alterações genéticas, passando a dificultar a detecção.

“No processo de avaliação do kit são usadas amostras já conhecidas. É assim que se estabelece a sensibilidade e a especificidade do exame”, explica. Em campo, o exame tem se mostrado confiável, diz Marchini.

“No Paraná, temos a sorte que o nosso Lacen é um dos melhores do país e a equipe de biologia molecular é altamente capacitada. E que, além de executar os exames do covid-19, está também atuando na epidemia de dengue que o estado enfrenta”, destaca.

É por isso que o Lacen, além testar para o novo coronavírus, também usa o kit próprio que avalia um painel de outras infecções do sistema respiratório. O estudo da presença de outros vírus ajuda a diagnosticar corretamente o paciente.

“O fato é que é uma situação histórica e vamos aprender com ela”, conclui.

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