Quarentena separa pais de filhos

No caso de guarda compartilhada, a situação é difícil; mas há quem tenha achado boas soluções

A quarentena mexeu com o convívio familiar de quase todo mundo, mas vem cá: você já pensou nos ex-casais que têm filhos? O Plural conversou com algumas famílias para entender como cada uma está escrevendo essa história.

Sob suspeita

Na semana passada, a supervisora de cobrança Natália Alice Fischer de Oliveira, 31 anos, conheceu um francês que tinha acabado de chegar no Brasil após um mochilão pela Europa. “Apresentei os sintomas do coronavírus já na madrugada seguinte. Imediatamente mandei a minha filha para a casa do pai”, relembra.

Natália conta que procurou uma unidade de saúde, mas não foi examinada e nem fez o teste. Voltou pra casa com alguns medicamentos e permanece em isolamento domiciliar.

Desde então, a comunicação com Beatriz, 10 anos, é feita por chamada de vídeo. O pai está ajudando. “A gente não tinha mais esse costume, ela ficava comigo. É difícil estar longe, mas estamos fazendo isso pela saúde dela. Tenho certeza que vai ficar tudo bem”, desabafa, contando os dias até poder receber a filha em casa: mais 7.

Mãe e filha em encontro virtual

Bons acordos

O ator Richard Rebelo, 44 anos, compartilha a guarda das filhas com a mãe. Ambos moram sozinhos, estão fazendo quarentena e não fazem parte do grupo de risco, por isso resolveram manter a dinâmica com as crianças como sempre foi. Clarice e Antônia, 7 e 10 anos respectivamente, permanecem duas semanas por mês na casa de cada um dos pais, que se visitam entre esses períodos – e continuarão. “Hoje a mãe vem almoçar conosco. Acho importante preservar o valor dessa constelação familiar que a gente tem”, defende.

Richard ao lado das filhas

A pesquisadora Andressa Medeiros, 43 anos, nos apresenta ainda um terceiro cenário: o filho, que tem 15 anos, mora com o pai e costumava passar os fins de semana com ela, mas durante esse período, eles suspenderam os encontros. “Eu e pai do meu filho decidimos que apenas um de nós sairá de casa para fazer compras em supermercado e qualquer outra eventualidade. Estamos pensando que o melhor é um de nós se preservar completamente”, justifica. 

Até que a quarentena acabe, ela e o filho vão manter a comunicação virtualmente: “Conversamos por telefone e mensagem. Hoje nos demos um oi pela janela à distância. Não é fácil para mim, mas creio que nossa situação até é favorável. Ele está bem adolescente e de modo geral se comunica mais com os colegas por meios digitais”.

Desacordo

J.M., 37 anos, preferiu não ser identificada pela reportagem porque ainda está buscando na justiça uma solução para o problema que vem enfrentando desde que começou a quarentena. Ela mora com as duas filhas, de 6 e 8 anos, mas o pai tem uma liminar que prevê algumas pernoites e fins de semana com as meninas. Enquanto a epidemia estiver no Paraná, ela quer que as crianças permaneçam exclusivamente com ela pela segurança da família: as meninas sofrem de doenças respiratórias e moram também com os avós, ambos no grupo de risco. 

“Elas serão melhor atendidas aqui em casa. Temos mais estrutura – e todos nós estamos totalmente isolados. O mercadinho aqui perto entrega as compras, não saímos pra nada”, relata e lamenta: “Exceto quando elas vão pra casa do pai. Na semana passada, ele as deixou sozinhas no apartamento dele para ir ao mercado”. 

O ex-casal tentou um acordo, mas ninguém cedeu. Então, J.M. pediu a suspensão da liminar do ex-marido e aguarda a decisão da justiça.

Visão de especialista

“A minha orientação aos meus clientes neste momento tem sido: se você for expor o seu filho a qualquer tipo de risco, é melhor que não o veja. Por exemplo: tem pai que trabalha em hospital e quer manter o contato. A mãe pode pedir uma medida liminar para suspender essas visitas, porque elas vão expor a criança a riscos”, explica a advogada familiarista Damaris Drulla.

A profissional orienta: “Faça as visitas por telefone ou videochamada. Eu sei que é complicado estar nessa situação, mas é preciso ter bom senso”.

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