“A última coisa que ele queria” é frustrante. O filme adapta um romance de mesmo nome escrito por Joan Didion, uma das escritoras mais importantes dos Estados Unidos. Como foi produzido pela Netflix, é razoável supor que dinheiro não foi um problema para os envolvidos nesse trabalho. O fato de o filme ser ruim deve ter outra explicação.
A história mostra como a jornalista Elena McMahon se envolve em um esquema de venda de armas militares para grupos revolucionários na América Central. Um esquema que envolve também o pai de Elena. Anne Hathway interpreta a jornalista e merece crédito pelo fiapo de interesse que o filme pode inspirar em quem quiser se aventurar. (Ênfase em “fiapo”.) O elenco, de maneira geral, é maltratado pelo roteiro, enquanto a direção lembra a de um telefilme tosco.
Elena ganhou experiência cobrindo a guerra civil em El Salvador e aceita fazer um último favor para seu pai. Dick, o pai, é um personagem desconjuntado e chega a ser doloroso ver Willem Dafoe passando por um constrangimento desses.
Dick está tentando vender um carregamento de armas para um pessoal barra-pesada na Nicarágua (os Contras, que combatem o governo sandinista no país – uma história longa que é levianamente ignorada pelo filme).
Quando consegue montar o esquema, Dick sofre um piripaque – parece estar com algum tipo de doença neurodegenerativa, – e pede a ajuda da filha. Elena viaja no lugar do pai para encontrar os compradores em algum ponto da América Central (Costa Rica?), mas, chegando lá, eles oferecem drogas e não dólares para pagar pelas armas. A jornalista desconfia do esquema todo e tenta extrair uma reportagem em meio à confusão. Logo, surgem pontos de contato entre os Contras e o governo dos Estados Unidos.
O filme é um thriller político, mas é tão atabalhoado que não consegue narrar direito a história que se propôs a contar. Ele é entediante e malfeito, e a culpa parece ser da diretora Dee Rees, que escreveu um roteiro pavoroso com Marco Villalobos.