Livro reflete sobre a conexão da humanidade com tecnologias

“A nova idade das trevas”, de James Bridle, aborda temas relevantes como machismo, racismo e a nova maneira de aprendizado

“Não somos impotentes, não ficamos sem devir e não somos limitados pelas trevas. Só temos de pensar, e pensar de novo, e continuar pensando. A rede – nós, nossas máquinas e as coisas que pensamos e descobrimos juntos – exige”. A frase final do livro “A nova idade das trevas”, de James Bridle, recém-lançado pela editora Todavia, é uma grande síntese do abordado pela obra. Bridle reflete sobre a humanidade e sua conexão não com a tecnologia por si só, mas as tecnologias. Com essa grande rede de informações, o autor questiona: estaríamos vivendo uma nova idade das trevas?

Para abordar esse pensamento e dissecar as suas ideias, o livro se divide em dez capítulos que começam com a letra C. Eles são: Cova; Computação; Clima; Cálculo; Complexidade; Cognição; Cumplicidade; Conspiração; Concomitância; e Cumulus. Essa divisão é interessante para entender de que forma é estruturado todo o pensamento da narrativa, sempre levantando os pontos de discussão através de seus eixos temáticos. Logo no capítulo inicial, por exemplo, a pauta acaba sendo como os seres humanos se articulam através dos computadores e dos sistemas. A partir dessa trajetória, há uma defesa em torno de uma verdadeira “alfabetização” por parte da população, além de trazer que “o individualismo e a empatia são ambos insuficientes na rede”. Seria essa apenas uma extensão da sociedade? Talvez isso seja uma das respostas.

É interessante como James idealiza um meio termo entre o aprendizado e um alarmismo, esse segundo até bastante criticado por alguns. A cada novo acontecimento demarcado, o autor parece colocar quase em pauta uma proximidade do fim, trazendo um certo tom bastante desesperador para o leitor. Um desses momentos é quando aborda sobre a manipulação digital do marketing, quando diz que somos vítimas dessa circunstância. Além disso, quando fala sobre as inteligências artificiais, também causa um tom quase absurdo. É um pensamento defendido pelo autor, nesse sentido é possível facilmente compreender o porquê dessa força em suas defesas. No entanto, não deixa de fazer sentido uma crítica acerca da possibilidade de trazer lados positivos do mesmo uso.

O lado mais desenvolvido de “A nova idade das trevas” é quando traz à tona temas relevantes como: machismo, racismo e a nova maneira de aprendizado da humanidade. Sobre os dois primeiros pontos, ele aborda mais no capítulo Cognição, quando diz que as imagens nessa rede acabam sempre sendo falsas e passíveis de serem mexidas. Por isso, alguns computadores podem até apresentar comportamentos racistas, sendo criados por homens brancos, como em grande parte dos casos. Eles podem ter problemas na identificação, por exemplo, de pigmentação de pele negra, entre outros casos. Sobre o aprendizado, é uma tônica de toda a obra. A busca de entender como os seres humanos podem receber e se conectar com as novas redes, além de passar esse aprendizado um para os outros é uma grande necessidade trazida no texto, preocupado na maneira que o futuro receberá essa informação.

Com isso, James Bridle faz um livro em busca de trazer algum alerta. Esse alerta não é necessariamente em forma de uma fatalidade que parece estar ocorrendo com a humanidade, mas sim um vislumbramento do futuro, como se pudesse acontecer em qualquer instante. “A nova idade das trevas” gera reflexões sobre de que jeito as trevas estão aparecendo na contemporaneidade. Se essas trevas seriam literais ou muito mais um medo crescente, o autor pouco responde. As suas dúvidas são levantadas apenas para gerar um alerta e nos fazer mexer o mais rápido possível.

Serviço

“A nova idade das trevas”, de James Bridle. Tradução de Érico Assis. Todavia, 320 páginas, R$ 69,90.

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