Paciente com câncer espera transporte adequado para fazer tratamento

Família mora na CIC, mas rapaz foi encaminhado para hospital em Campo Largo

Desde que descobriu um câncer agressivo na boca, há seis meses, Hermes Gomes de Souza Filho, de 36 anos, luta não apenas contra a doença mas também pelo auxilio no tratamento. A família reclama não conseguir transporte gratuito de Curitiba até Campo Largo – para onde ele foi encaminhado – nem mesmo vale-transporte, um direito de pessoas em quimio ou radioterapia. Com baixa imunidade, uma ferida aberta que lhe toma a metade do rosto e dificuldade para comer, o paciente precisa usar o transporte coletivo e não conseguiu sequer o suplemento alimentar adequado.

A doença foi descoberta em julho, após uma dor de dente e uma forte hemorragia. Atendido na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) do Fazendinha, Hermes foi encaminhado para o Hospital do Rocio, em Campo Largo. “Essa distância dificulta muito o transporte pra gente. Se consigo dinheiro pra um dia, não consigo pra outro. Eles falaram que não têm obrigação com ele porque tem o [hospital] Erasto Gaertner aqui em Curitiba, mas foi daqui que levaram ele pra Campo Largo”, conta Juliana Ferreira de Souza da Silva, irmã de Hermes.

Hermes, antes da doença. Foto: Arquivo pessoal

“Nessa primeira fase do tratamento, sofremos muito porque tivemos pouca ajuda da Saúde de Curitiba. Pra conseguir levar ele todo dia pra lá, estávamos usando um dinheiro de um acordo judicial que minha mãe recebeu. Só que acabou o dinheiro do acordo e não temos mais recursos para levar ele”, diz Juliana. “A segunda fase do tratamento começa em fevereiro e a gente não sabe a quem recorrer”, lamenta.

A irmã lembra que teve que largar o serviço pra cuidar do irmão, que trabalhava sem carteira assinada e não recebe benefícios. Com os dois, moram outras oito pessoas da família, que reside na Ocupação Tiradentes, na Cidade Industrial de Curitiba, uma área com aproximadamente 350 famílias de baixa renda.

“Nem mesmo o suplemento alimentar pra ele eu consegui. Estou esperando há seis meses. Ele não consegue comer comida normal, mas dou miojo ou sopa daquele macarrão bem molinho pra ele, fazer o quê?”

Enquanto esperava pelo transporte com o veículo da prefeitura – que veio apenas quatro vezes nos últimos seis meses, contabiliza a irmã – Juliana solicitou vale-transporte no Centro de Referência de Assistência Social (CRAS). São quatro coletivos até o hospital da cidade vizinha. “Eles dizem que a passagem dali não é só dele, que eles têm outras pessoas pra ajudar.”

Sem vagas

A Secretaria Municipal da Saúde de Curitiba informou ao Plural que Hermes está cadastrado para receber o auxílio do Transporte Sanitário – deslocamento programado de pessoas em tratamento pelo SUS, com dificuldade de locomoção e que não possuem condições de utilizar o transporte público.

Em setembro e outubro de 2019, a família de Hermes buscou a Unidade de Saúde Sabará. “Ele teve o agendamento atendido para algumas das consultas solicitadas. Porém, para outras datas não havia disponibilidade de vagas”, diz a nota.

De acordo com a secretaria, “não há registro de novas solicitações formais de agendamento de transporte sanitário para o referido paciente desde o mês de novembro de 2019. Caso o paciente já tenha a agenda do ciclo de tratamento, a família pode procurar a unidade de saúde para solicitar o agendamento”.

Sem registro

Já o CRAS Corbélia, que atende a região de residência da família, na CIC, informou que “não foi identificado nenhum registro de solicitação de vale-transporte e/ou isenção tarifária em nome dele”.

Ainda assim, “com esse quadro de saúde, ele se enquadra nos critérios para isenção tarifária. Com as informações repassadas sobre o paciente, o CRAS irá fazer contato com a unidade de saúde para resgate de informações e tentar contatar a família, para cadastrá-lo no sistema e orientar sobre os serviços que podem ser ofertados pela Ação Social para pessoas em vulnerabilidade social em tratamento para doenças crônicas”, reforça, também em nota, o CRAS Corbélia, que se colocou à disposição para que a família possa buscar auxilio e orientação.

Transporte sanitário

Transporte sanitário é um serviço de transporte ambulatorial programado, e com agendamento prévio, para tratamento contínuo ou esporádico de pacientes do SUS. Ele é liberado em casos de tratamento com quimio ou radioterapia e também em terapia renal.  

Para garantir o serviço é preciso passar por uma avaliação da equipe da unidade de saúde mais próxima da residência. “Caso identificada a necessidade e cumprido critérios, a unidade realizará a solicitação de agendamento do transporte.”

“Para a concessão do benefício, o paciente deve passar por avaliação da capacidade funcional, por meio da escala de Lawtown e Brody. Critérios sociais também são avaliados. Residir em área de invasão não é critério de exclusão para o serviço, desde que o paciente se enquadre nos critérios acima”, esclarece a Secretaria de Saúde de Curitiba.

Atualização

Após a publicação da reportagem, a Prefeitura se prontificou a reavaliar o caso de Hermes e verificar a possibilidade de transferência do tratamento de Campo Largo para o Hospital Erasto Gaertner, em Curitiba. Juliana foi recebida na Unidade de Saúde Sabará, onde prometeram ajuda.

“Fiquei chateada deles dizerem que meu irmão não tem cadastro pois ele tem, tanto no posto de saúde quanto no CRAS. Mas depois da reportagem me atenderam e eu já consegui agendar a data para fazer o novo RG dele, que eu estava esperando há meses”, conta Juliana. “A resposta da reportagem tá caindo do céu”, comemora. “Mas ainda estou aguardando o transporte.”

Vários leitores do Plural entraram em contato com a Redação pedindo o telefone da família, para ajudar de alguma forma. Juliana autorizou e, assim, segue o contato para quem se interessar: 41-98497-2800.

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