Criatividade, colaboração e desenvolvimento local

É impossível estar bem se nossos vizinhos passam por sofrimentos

Um antropólogo estava a estudar uma tribo africana chamada “Ubuntu”. Ao final de seu trabalho, comprou uma bonita cesta de doces, colocou no pé de uma árvore, reuniu as crianças da tribo e propôs uma espécie de gincana. Contaria até três para que elas corressem até o cesto. A primeira colocada ganharia todos os doces. As crianças se posicionaram e, instantaneamente após o sinal, deram as mãos, chegaram juntas e dividiram os doces. Estupefato, o antropólogo questionou o motivo de terem tido aquela ação,  foi quando uma das crianças respondeu naturalmente: “Ubuntu tio, como uma criança poderia ficar feliz se todas as outras estivessem tristes?”

Resgatando também uma cultura Aymara, dos Andes da América do Sul, chegamos ao conceito de “Vida Boa”, onde se compreende que não é possível uma boa vida se nosso vizinho não estiver bem, ou a cidade, estado, país ao lado não estiverem bem, concluindo-se que a boa vida só é possível se todos estivermos bem. Ensinamentos ancestrais e tão óbvios nos mostram o quão urgente é o olhar para aquele que está, muitas vezes, inviabilizado ao nosso lado. Da mesma forma que não se pode olhar apenas para o ser humano, é necessário olhar para o planeta e toda sua biodiversidade com a mesma atenção daquele que olha o seu semelhante, pois de nada adianta estarmos bem se o planeta adoece.

Reflexões como essas nos levam a debater o sistema em que estamos inseridos: das relações humanas ao modelo econômico, onde o paradigma de competição precisa ser superado pela colaboração. Partindo do desafio generoso de olhar ao redor, e também para o além mar, nos propondo a construir soluções práticas e objetivas para gerar impacto positivo socialmente, ambientalmente e economicamente, jogando luz no fortalecimento de arranjos e negócios locais. A economia deve ser vista como instrumento de emancipação dos povos, desenvolvimento das pessoas e soberania dos países. A partir dos territórios daqueles que produzem, empregam e investem no local que temos a possibilidade de construir modelos econômicos disruptivos.

A comunicação não fica de fora desse processo. Olhar a comunicação de modo compartilhado, preservando múltiplas visões e construindo diferentes narrativas, é fundamental para gerar transformações sociais e políticas mais orgânicas. A transformação digital das organizações é parte estruturante de qualquer inovação, sendo necessário ter um olhar respeitoso à privacidade, às estratégias que nos permitem falar com os públicos de interesse específico, ao alcance potente da ciência de dados, à frenética interatividade das plataformas de interesse social e à genialidade da inteligência coletiva a serviço de negócios e interesses comuns.

São múltiplas as potências a serviço do comum e, quando conectadas, permitem a propulsão de arranjos produtivos, a mudança de paradigmas, olhares mais generosos e uma fresta de esperança na coletividade que tem como base o bairro, o território, o LOCAL!

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