Campanha quer ver você sorrir em Curitiba

Casal arrecada pela Internet para comprar produtos de ambulantes nas esquinas

Você já deve ter comprado uma balinha no sinaleiro. Talvez jabuticaba ou pinhão, bolo no pote ou um pão quentinho?  Tem livros de desenhar ou pintar também. O comércio informal pelas esquinas de Curitiba, além de agilizar a vida do motorista, ajuda no orçamento familiar dos que passam horas em pé por ali. Ao final do dia, porém, nem sempre os produtos são vendidos e quando ele é perecível, como alimentos, o trabalho pode acabar no prejuízo. Foi ouvindo uma destas histórias que um casal de comunicadores se sensibilizou e decidiu criar a campanha ‘Quero ver você sorrir’.

A ideia é arrecadar uma quantia em dinheiro pela internet e sair pelas ruas da capital paranaense em busca dos ambulantes, especialmente aqueles que estão sozinhos, pelas esquinas e calçadas. Quinze já foram pré-selecionados pelo projeto. “Queremos beneficiar aquele ambulante que coloca sua caixa de papelão, caixote de madeira, e expõe alguns produtos, de fabricação caseira, própria, que trabalha para levar o pão de cada dia para casa, com dignidade. E que continua no caminho do bem, apesar de todas as dificuldades”, explica o jornalista Hélio Marques.

Ele conta que, com as doações, no fim do dia, ele e a esposa, – a relações públicas  Andrea Marques – percorrerão os sinaleiros para a compra do mês. “Vamos comprar tudo e tudo o que for comprado será doado. Ali mesmo, para quem estiver passando, para moradores de rua, ou entregaremos em instituições de caridade. Tudo será documentado, para mostrar aos nossos amigos parceiros, que fizeram as doações. Hoje ainda são poucas, mas estão crescendo, dia a dia.”

A arrecadação pela internet começou há 10 dias e soma R$ 410. “Não temos ideia do valor a ser investido ainda, pois não sabemos quanto utilizaremos em cada compra. Há ambulantes que, comprando tudo, gastaremos R$ 30 (como a bala de goma), mas há outros que só uma aquisição chegará a R$ 300. A ideia é fazer uma compra por semana”, ressalta Marques.

Ele lembra que a captação dos recursos será feita por 60 dias, pela plataforma Kickante. “Até lá, estimamos captar R$ 10 mil, sendo que 100% dos recursos serão utilizados para comprar produtos dos ambulantes, pelo tempo que o dinheiro der. Na próxima semana, iremos gravar as primeiras compras e adquirir os produtos com recursos próprios”, adianta.

Histórias

Entre os itens selecionados estão pães, bolos, bolachas, frutas, produtos de bazar e acessórios femininos. Dentre os vendedores, homens, mulheres e idosos, alguns acompanhados de crianças. Não foi encontrado nenhum menor sozinho, vendendo nos sinaleiros. “Escutamos muitas histórias dramáticas mas também curiosas, como vendedores que ficam sob sol, chuva e frio e, ao final do dia, têm de pagar um percentual para o fornecedor dos produtos, geralmente alimentícios. São pessoas que fazem doces, por exemplo, e contratam esses vendedores.”

Nesse caso, ressalta ele, o ambulante não se encaixa no projeto, pois não fica com 100% das suas vendas, já que há alguém por trás, ganhando também. Os ambulantes que possuem barracas nas ruas, da mesma forma, não serão beneficiados. “Nem aqueles casais que vendem chocolates ou outros produtos com o objetivo de juntar dinheiro para casar.  Apesar de estarem lutando para conquistar um sonho, o que é muito digno, nossa prioridade é ajudar aqueles que estão batalhando para levar sustento para casa, em primeiro lugar.”

Jornalista, nascido em Cruzeiro do Oeste, Marques recorda as histórias de vida que o motivaram. “Um dos ambulantes que ouvi, uma senhora que vende balas de goma numa das praças do centro, consegue R$ 100 ao fim de um mês inteiro. Pega sempre 30 balas e, no fim do dia, quase nunca consegue vender tudo. Recebe uma aposentadoria de menos de R$ 1 mil, que não dá para pagar todas as contas e remédios, pois sofreu um AVC e caminha com muita dificuldade. Diz que tem filhos, mas eles ajudam pouco”, recorda.

Para ele, cada história está recheada de significado. “Elas se transformarão em um livro, mais adiante. Possivelmente, a publicação também se dará com ajuda de muitos”, acredita.  “Esse pessoal, além de lutar, é muito carente. As pessoas passam por eles como se não existissem. Percebi que gostam de conversar, ter atenção. Quem sabe o projeto não desperte nas pessoas o interesse de olhar para eles com outros olhos, sabedores que ali há um trabalhador, que também está lutando para viver, ou sobreviver.”

Andrea e Hélio Marques. Foto: Arquivo Pessoal

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