Professores e estudantes saem às ruas contra Bolsonaro

Em Curitiba, cinco mil protestam por cortes de verbas nas universidades, programa Future-se e Reforma da Previdência

Em  mais um ato de protesto contra o governo de Jair Bolsonaro, professores e estudantes uniram-se a trabalhadores e servidores públicos em todo o país ontem (13/8) para reivindicar mudanças no sistema de cortes que afetam as universidades públicas brasileiras. Na Greve Nacional da Educação, os manifestantes também pediram pelo fim do programa Future-se e pelo arquivamento do projeto da Reforma da Previdência. Em Curitiba, cinco mil pessoas, segundo a Polícia Militar, concentraram-se na Praça Santos Andrade, de onde seguiram, com muito barulho, até a Boca Maldita. A manifestação ocorreu em todos os estados do Brasil.

O ato, organizado pela Confederação Nacional dos Trabalhadores em Educação (CNTE), teve forte apoio de movimentos estudantis e sociais, centrais sindicais e associações de professores, especialmente universitários, que participaram em peso do protesto. “Há um ataque sendo feito contra as universidades federais brasileiras, que estrangula o funcionamento das instituições, com perspectivas de cortar bolsas e fechar portas. Não tem como trabalhar e a resposta tem que ser dada na rua”, acredita o professor Nickson Malverde, do departamento de Engenharia Mecânica da UFPR. Mesmo afastado da docência por problemas de saúde, ele não deixou de participar do protesto, mesmo na cadeira de rodas.

A mobilização no Paraná foi uma das maiores do país, segundo a presidente da União Paranaense dos Estudantes (UPE), Izabela Marinho. “Tivemos mais de 20 atos no estado, além de todas as cidades do Brasil, pois hoje o jovem já entendeu que está tudo linkado com a educação. Ela está diretamente ligada com o debate da previdência e dos bancos públicos, por exemplo. Tudo faz parte da nossa luta, inclusive a negativa ao programa Future-se”, avalia.

Segundo Izabela, o texto do governo foi apresentado de forma autoritária, sem qualquer forma de consulta à comunidade universitária “Ele não tem cabimento na universidade que construímos, pois visa a precarização por meio da privatização velada”, dispara.

Novo programa do governo não é bem visto. Foto: Mauren Luc/Plural

Além dos estudantes, muitos pais também estiveram na praça apoiando o movimento. Foi o caso das três irmãs, Noeli, Iraci e Gelsi, que foram com toda família protestar contra o governo. “Não aceitamos o jeito como as coisas estão e precisamos lutar pra mudar isso. Não sabemos se vai adiantar, mas temos que fazer nossa parte, dar esse exemplo pros nossos filhos”, acredita a cabeleireira Noeli Scheffer.

“Vim lutar pela educação pública para meu filho. Temos que nos unir para garantir o direito deles. Nós não tivemos a oportunidade que eles têm, mas se não lutarmos, talvez eles não possam mais estudar”, percebe a aposentada Iraci Beltramin.

“Independente se você tem o não um bom emprego, há outra geração aí que vai perder os direitos que conquistamos e estamos perdendo por causa deste governo. Então, viemos com toda família hoje pra rua, pra protestar”, completa a irmã, Gelsi Fabrici.

As irmãs Noeli, Iraci e Gelsi foram protestar com os filhos. Foto: Mauren Luc/Plural

De acordo com o presidente da Associação dos Professores da Universidade Federal do Paraná (APUFPR), Paulo Vieira Neto, está se produzindo uma unidade interna nas três categorias da universidade, o que dá uma qualidade diferente pros atos, chegando ao máximo da mobilização. “Temos um horizonte complicado por conta dos cortes, que colocam em risco 1,3 mil empregos dos terceirizados – da limpeza, segurança e restaurante universitário. É a mesma situação em uma série de federais. Corremos o risco de fechar mesmo as portas. É um ambiente de administração muito tenso. O MEC (Ministério da Educação) não dá margem pra tocarmos as coisas direito e isso vem revoltando a todos”, ressalta Neto.

Unespar abriu o manifesto com escudos de quadro e giz. Foto: Mauren Luc/Plural

FUTURE-SE

O presidente da APUFPR revela que o texto do programa Futere-se foi rejeitado pelos docentes em assembleia, realizada na tarde desta terça-feira (13/8) na Reitoria da UFPR. “É um projeto que não atende mais ao nosso modelo. Temos 100 anos, não estamos implantando modelo de universidade; sabemos como ela funciona e sabemos o que fazer para melhorar, mas nosso modelo, que não é importado, era democrático, que é justamente o que esse projeto vem cortar”, destaca.

“Ele trata de financiamento mas não de vida acadêmica nem de inovação e pesquisa. Fala de parceria com iniciativa privada mas esquece que estamos num nível de industrialização semelhante ao dos anos 50. As empresas estão em recessão ou fechando. Quem é que vai querer fazer parceria conosco por pesquisa e desenvolvimento? Cadê a pujança da indústria nacional para investir nas universidades? Só quem lucrou neste trimestre foi banco. O projeto desconhece inclusive a situação econômica brasileira”, enfatiza.

Os docentes da UFPR vão propor ao MEC a melhora do modelo democrático de universidade, “que era o que estávamos seguindo, um modelo includente, no qual o filho do pobre também pode participar”.

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