Aprender a ler e escrever é um dos principais marcos da experiência escolar das crianças. No entanto, a forma como esse processo se dá nas escolas mudou nas últimas décadas, o que causa estranheza entre pais e familiares. A geração que hoje tem entre 30 a 40 anos viveu a experiência da alfabetização já na educação infantil, com cadernos de caligrafia e muitos exercícios. Agora o processo é diferente. O que mudou?
Segundo a doutora em Educação e professora da Rede Municipal de Curitiba, Thalita Folmann da Silva, a abordagem antiga incluía uma série de exercícios mecânicos e de repetição que hoje se entende como desnecessária. Folmann também é professora da Pontíficia Universidade Católica do Paraná e coordenadora da especialização em Alfabetização e Letramento na instituição.
A estratégia mais atual é a que vê a educação infantil como um momento de exploração, da brincadeira, da descoberta e que explora uma aproximação com as letras pela familiaridade com o próprio nome, pelos sons e por aquilo que é significativo para a criança.
Atualmente, explica, o processo de alfabetização ocorre desde o último ano da educação infantil até o segundo ano do ensino fundamental. Porém, por causa da pandemia é preciso avaliar individualmente cada estudante e há a possibilidade de admitir a alfabetização completa até o terceiro ano.
Esse processo de alfabetização começa com atividades de familiarização da criança com o próprio nome e de consciência fonológica, com rimas e parlendas (que são versos com ou sem rima lúdicos, como “Dedo mindinho, seu vizinho, pai de todos…”). Além da ação da escola, a alfabetização inclui também a participação da família, que pode estimular a criança conversando, explorando livros, o vocabulário e o diálogo.
Esse processo prima pelo conhecimento que tem significado para a criança. E pelo processo de descoberta.
Família também é parte da alfabetização
A participação dos pais também é essencial no processo de alfabetização. Mas não se trata de sentar e tentar ensinar o A-B-C. A própria rotina pode incluir momentos importantes para a alfabetização. A conversa sobre a rotina na escola, programas em família que sejam pensados para as crianças, como uma ida a pracinha do bairro são momentos essenciais em que a criança aprende a se expressar.
“É importante a interação, a qualidade desse tempo do pai e da mãe com a criança”, destaca Folmann. Mas o que é um tempo de qualidade? É aquele em que há, de fato, uma interação e uma atenção entre os pais e os filhos. Isso não precisa acontecer só na leitura, mas pode ser nas refeições, na conversa sobre as atividades do dia, enquanto a família assiste junta um programa na televisão. “O adulto pode conversar com a criança sobre o programa”, sugere a professora.
Outro momento importante nesse processo é quando a criança encontra uma palavra que não conhece. Os pais podem então conversar sobre o significado com ela ou procurar juntos esse significado. E a professora dá uma dica: temos inúmeras bibliotecas públicas na cidade. Ir com a criança emprestar livros, consultá-los lá e até mesmo aproveitar as atividades que acontecem nesses locais é uma estratégia barata e importante.
Na hora de avaliar o progresso da criança, a professora alerta que não é possível comparar um estudante com outro. “A família precisa comparar a criança com ela mesma, com as evoluções que ela mesma apresenta em relação a outro momento anterior”, aponta. Além disso, é importante o diálogo com a escola, as professoras e a participação da família nas atividades escolares.
Professores precisam de qualificação para alfabetizar
Na escola, destaca Thalita, o desafio para os professores é grande. “É preciso entender as especificidades de cada criança e explorar diferentes propostas”, explica. Uma estratégia é, em determinados momentos, trabalhar com agrupamentos de estudantes que estão em momentos do processo de alfabetização semelhantes.
O que é essencial nesse processo é que os profissionais recebam qualificação específica. Inclusive os tutores responsáveis por crianças com necessidades especiais.
Segundo Thalita, a nova política de alfabetização prioriza a conclusão do processo de alfabetização já no primeiro ano do Ensino Fundamental e já deve estar contemplada nos livros aprovados no Programa Nacional do Livro Didático (PNLD) este ano. Ela também adianta que a partir de 2023, os Centros de Educação Infantil voltarão a ter livros didáticos do PNLD. “É um tema polêmico (a volta da adoção de livros na educação infantil), mas há quem reconheça ser um suporte importante para o professor”, completa.
Boa tarde!
Gostei de ler a reportagem sobre alfabetização…O tema gera muitas inquietações…minha sugestão é continuar a escrever mais sobre o tema e conhecer outras realidades… Outros relatos são bem-vindos.
Obrigada pela audiência, Rita. Vamos escrever mais sobre o assunto com certeza.
Atacar acredito que não seja o caminho, a matéria tanto traz pontos positivos como negativos, achei muito interessante compreender melhor como pode ser feita essa inserção da alfabetização, se utilizando de metodologias acessíveis e que realmente muito podem contribuir para o desenvolvimento desse processo tão rico e essencial para a formação humana. Em contrapartida, esbarramos na problemática da falta de comprometimento ou interesse dos pais para com a alfabetização da criança e concordo plenamente que a pandemia ocasionou uma condição de “caos” para esse momento educacional que exige uma participação muito próxima do aluno para com os professores, percebo um “aligeiramento” uma urgência que a criança esteja alfabetizada, não sendo respeitada seu tempo e déficits ocorridos nesse período de educação remota, as crianças estão avançando nos anos escolares normalmente, sem ser considerada suas necessidades e dificuldades que somente se reforçam.
Gostei muito da matéria. É importante esclarecer aos pais que nem todas as crianças aprendem no mesmo tempo e da mesma forma, principalmente com a mesma metodologia que eles (pais) foram alfabetizados. Trabalho em uma escola pública de Minas Gerais e recebo com frequência pais questionando a didática utilizada pelos professores exigindo que eles passem exercícios em cadernos de caligrafia, deem a mesma atividade complexa do restante da turma para uma criança que ainda não está alfabetizada e por isso precisa de atividades e atenção adequadas a sua necessidade.
As crianças estão chegando na 8 a. Série semi analfabetas devido a política educacional adotada.
Pedagogo, Prof Dr
Sou professora da rede municipal de São Paulo e acredito que o livro na educação infantil, desde que bem escolhido, vai somar muito na aprendizagem. Desde que, utilizá-lo seja uma das estratégias para compreensão da criança, mas não o foco principal. Hipocrisia pra mim é elogiar o progresso das crianças do particular que fazem uso de materiais assim e repudiá-lo na escola pública, como absurdo e ineficaz quando nossos resultados são inferiores e quando se fala de qualidade apontamos para o particular e seu sistema normalmente apostilado desde cedo.
O conteúdo não respondeu a manchete.Sou professora na rede pública municipal e estadual no interior de São Paulo. Trabalho em uma comunidade onde as famílias não valorizam a educação,onde a maioria não comparecem as reuniões e nem participam da vida escolar dos filhos.O professor que se vira no cotidiano para dar conta .As cobranças são feitas pela equipe gestora e o professor não pode fazer milagres.A pandemia só agravou o que já ia de mal a pior.Muitas familias deixaram seu filhos em casa sem participar de nada on line simplesmente por não ter Internet, nem computadores e celulares .Equidade não foi respeitada.Deixo minha indignação a respeito da matéria.
Oi professora, certamente é um assunto que não se esgota em um texto. Vamos continuar discutindo os desafios dessa e de outras fases da educação. Obrigada pela leitura. Rosiane
Concordo com o Damião .
Gostei muito do conteúdo, parabéns enriqueceu meus conhecimentos.
A escola pública hoje está preparada tanto quanto as privadas muitas vezes a ter melhor as escolas privada aceleram a alfabetização o que acaba prejudicando.
Não gostei. A matéria não responde a pergunta da manchete. Quando meu filho vai aprender a ler? Não sei, depende, cada criança é diferente… Só falou o óbvio.
É verdade, também gostei do conteúdo exposto, pois passamos por dificuldades em como contribuir mais no processo de alfabetização das nossas crianças. Muito obrigada.
Olá! Gostei muito desse conteúdo sobre Alfabetização.Maravilha.
Digo, “a maioria das escolas (…)
É muito importante essa discussão sobre a alfabetização, estamos em um momento muito difícil para esse processo, as maioria das escolas públicas não se prepararam para esse momento e estão carentes de apoio.
Oi Joselita, tudo bem? Não sei se é justo dizer que as escolas públicas não se preparam para esses momentos. A rede pública aqui em Curitiba tem um programa de formação robusto até, melhor que de algumas instituições privadas. O maior problema, na minha opinião, é a substituição de profissionais experientes, servidores públicos de carreira, por profissionais temporários, muitas vezes ainda no início da carreira profissional. Obrigada pela audiência e o debate. Rosiane
Gostei do conteúdo! Preciso de mais informações, para me certificar desse processo de ensino. Obrigado!
Oi Antonio, a professora Thalita insistiu muito na necessidade de manter um diálogo com a escola para entender as especificidades do. seu filho e como ele evoluiu durante o período letivo. Você também pode observar em casa isso e comparar a relação da criança com letras, palavras, livros antes e agora. Obrigada pela audiência
Rosiane
Olá! me chamo Maria Jorgina. Sou Professora dos Anos iniciais; Pedagoga, atualmente Agente de Apoio a Inclusão.
Gostei muito do conteúdo sobre Alfabetização.