“Quando começa a chover o sentimento é de desespero”

Moradores do Parolin perdem móveis, animais e casas inteiras após enchente

Das três ocasiões em que Sirley Andrade da Silva perdeu tudo por conta dos alagamentos em sua casa, esta foi a pior. Segundo a moradora do Parolin, sempre que chove na cidade, as ruas do bairro ficam inundadas e as casas tomadas por água. 

“Não é fácil ver a água levar tudo. Pia, fogão, guarda roupa, foi tudo. Perdi meu cachorro afogado, se eu fosse tentar salvar eu ia junto na correnteza”, relata Sirley, que atualmente está passando as noites na oficina do marido. 

As chuvas que atingiram Curitiba no último final de semana (15 e 16 de janeiro) deixaram cerca de 150 famílias do Parolin prejudicadas. Quem afirma é a defensora popular e também moradora da comunidade Angélica de Paula. “Quando começa a chover o sentimento é de desespero. Aqui dá 5 ou 10 minutos no máximo de chuva forte, vira um mar.”

De acordo com Angélica, mesmo com a ajuda do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) de Curitiba, que ofereceu acolhimento, cestas básicas, cobertores e colchões, diversas famílias ainda ficaram desamparadas.

“Não é fácil ver a água levar tudo. Pia, fogão, guarda roupa, foi tudo. Perdi meu cachorro afogado, se eu fosse tentar salvar eu ia junto na correnteza”

Sirley Andrade da Silva, moradora do Parolin.

Segundo outra moradora do Parolin, Sonia Cristina Gonçalves, as inundações são recorrentes no bairro. Na casa dela, o primeiro alagamento aconteceu na virada do ano, na madrugada do dia 31 de dezembro para o dia 1º de janeiro de 2022. Desde então, já foram três inundações.

A situação está terrível. Eu morro de medo de romper alguma coisa. Eu ergui os móveis, mas está tudo estragado, descascado por baixo. É horrível, você leva a vida toda para comprar uma coisa à prestação e, de repente, em questão de minutos estraga tudo, acaba tudo”, descreve.

Obra incompleta e descaso  

Para as moradoras do Parolin, uma das principais causas das enchentes recorrentes é a obra de drenagem inacabada do Rio Belém, iniciada pela gestão municipal há quatro anos. O objetivo da intervenção era justamente tornar o rio capaz de receber um volume maior de água durante a época de chuvas e, assim, evitar alagamentos.

Procurada pela reportagem, a prefeitura de Curitiba informou que está em andamento “uma grande obra de controle de cheias do Rio Pinheirinho, coordenada pelo Departamento de Pontes e Drenagem da Secretaria Municipal de Obras Públicas”. 

Conforme a pasta, quando concluídos, os oito km da construção beneficiarão cinco bairros da cidade, entre eles o Parolin. “O objetivo é conter as cheias na bacia do Rio Pinheirinho que afetam os córregos Santa Bernadethe, Henry Ford e Curtume e os rios Vila Guaíra e Pinheirinho, que deságua no Rio Belém. Os trabalhos incluem a implantação de indutores de retardo (barramentos), condutos forçados, estações de bombeamento, alargamento e reperfilamento do canal, construção de diques de contenção, além de construção de estruturas de controle e recuperação de mata ciliar”, destacou a prefeitura, em nota. 

Além da finalização da obra, a comunidade também reivindica a presença dos governantes no Parolin, para que possam compreender a situação precária da região. Segundo as moradoras, a única vez que viram uma equipe da prefeitura da cidade no local foi para retirar os entulhos da enchente. “A gente se sente deixado de lado, excluído. A prefeitura não vem ver como a gente está, ver o quanto a gente perdeu, não se pronuncia. A gente não tem ajuda, não sabe a quem recorrer, estamos bem perdidos”, afirma Sirley. 

Sobre o acolhimento e ajuda às famílias, o governo municipal informou que em casos emergenciais, como o das fortes chuvas que atingiram a região do Parolin, a Fundação de Ação Social (FAS) é acionada através da Defesa Civil e oferta acolhimento, alimentação, colchões, cobertores, vestuários e kits de limpeza. As equipes da FAS também identificam, cadastram e monitoram as famílias impactadas, pois nos dias que seguem outras demandas podem surgir.

Quando a situação atinge um número muito elevado de pessoas, a Defesa Civil define um espaço para que as famílias sejam acolhidas emergencialmente visando à saída rápida daquela situação de risco.

Doações

Diante da situação emergencial das famílias do Parolin, os coletivos Usina de Ideias, Projeto Tabuleiro e Dia de Rainha se uniram numa ação que visa ajudar os moradores do bairro. Quem quiser pode ajudar doando, em especial, produtos de limpeza e de higiene pessoal, além de lonas, colchões, vassouras, detergentes e alimentos não perecíveis. 

As doações podem ser entregues diretamente na Rua Brigadeiro Franco, 5213. Há também a possibilidade de doar dinheiro por meio do código PIX (41) 99701-1138.

Chuvas

No último sábado (15), Curitiba registrou fortes chuvas com queda de granizo e rajadas de vento de 39,6 km/h. Segundo dados do Simepar, a precipitação acumulada foi de 54mm. O temporal provocou alagamentos, quedas de árvore e uma ponte no bairro Cajuru teve que ser interditada por conta do risco de desabamento.

Já nesta terça-feira (18), a Defesa Civil apontou que a região norte da capital foi a mais afetada pela chuva. Com rajadas de vento de até 41 km/h e precipitação acumulada de 51,4 mm em duas horas, a chuva provocou quedas de árvores, galhos grandes, pontos de alagamento e necessidade de fornecimento emergencial de lona para residências.

Depois do temporal de sábado, o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) emitiu um novo alerta laranja para tempestades no Paraná, válido até às 10 horas desta quarta-feira. Há possibilidade de ocorrência de chuva entre 50 e 100 mm/dia, com ventos intensos (60 a 100 km/h) e queda de granizo. O alerta ainda avisa sobre o risco de corte de energia elétrica, estragos em plantações, queda de árvores e de alagamentos.

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