Cartão vermelho para a homofobia

Aos poucos, futebol vai se abrindo para acolher torcedores LGBTQIA+ e os coletivos mostram sua força. Mas jogadores gays ainda são um tabu

Futebol. Esse esporte que faz parte de forma intensa da cultura brasileira gera os mais diversos sentimentos em torcedores apaixonados. Quando seu time marca um gol, não tem quem segure a explosão da arquibancada. Todos gritam, pulam e se abraçam, não importa se quem está ao lado é um completo desconhecido. Naquele momento, só basta torcer para o mesmo clube.

Mas nem sempre o futebol é um espaço plural. Surgido no Brasil como um esporte para homens brancos e de elite, ele demorou alguns anos a se abrir para negros e operários. Até hoje, mulheres encontram barreiras para estarem nas arquibancadas, jogar bola e falar sobre futebol. E se as mulheres ainda passam por isso, outro público encontra ainda mais dificuldades para estar nesse espaço: torcedores LGBTQIA+.

A homofobia está muito presente no futebol; para muita gente, o mundo do esporte com o mundo LGBTQIA+ nem sequer são compatíveis. De um lado, grande parte das torcidas evocam gritos homofóbicos para os adversários. Do outro, torcedores que se identificam como LGBTQIA+ não se sentem seguros para estar nos estádios. Se existem jogadores gays ou bissexuais nas principais ligas do mundo, eles não são assumidos. Quando clubes se posicionam a favor da causa LGBT+, sofrem pressão de uma parte da torcida.

E, até pouco tempo atrás, o simples fato de trazer esse assunto à tona era um tabu. Mas isso está começando a mudar. Nos últimos anos, a pauta LGBT+ está mais presente na sociedade em geral. Marcas fazem campanhas apoiando a causa e o tema é mais discutido pela mídia. E, no meio do futebol, surgem no Brasil torcidas e coletivos LGBTQIA+ que vêm com a proposta de acolher torcedores e pressionar seus clubes a apoiar a causa.

São quase 20 torcidas e coletivos espalhados por todas as regiões do Brasil. Em meio ao ambiente preconceituoso do mundo do futebol, elas se tornam mais do que um grupo de torcedores: representam resistência.

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Yuri Senna no Mineirão, durante jogo do Cruzeiro. Foto: arquivo pessoal.

O futebol está presente na vida de Yuri Senna desde a infância, muito antes de ele entender o seu significado. Seu pai, torcedor fanático do Atlético Mineiro, jogava futebol amador e a mãe foi campeã mineira de futebol feminino.

Em 2003, a sua história com o esporte ganharia um novo sentido. Naquele ano, o Cruzeiro ganhou a Tríplice Coroa (Campeonato Mineiro, Copa do Brasil e Campeonato Brasileiro) e Yuri tinha se mudado de Matosinhos, a 40 km de Belo Horizonte, para Santa Luzia, que fica ao lado da capital mineira. Ali, com sete anos de idade, ele acompanhou nas ruas a festa da torcida com os títulos conquistados. Indo em direção contrária ao pai, que o vestia com as camisas do Galo, ele se apaixonou justamente pelo rival. “Fiquei muito encantado com o Cruzeiro. Eu não entendia que o Cruzeiro estava jogando bem, nem o futebol. Mas ver as pessoas comemorando o que o time estava conquistando foi fantástico. Ali eu comecei a me apegar ao Cruzeiro”, relembra Yuri.

Em 2006, Yuri foi ao Mineirão pela primeira vez. Ali, teve a certeza de que gostava de futebol e queria fazer parte daquela energia da torcida. Mas como ele ainda era criança, só ia ao estádio eventualmente. Conforme ia chegando na idade adulta, foi ficando mais independente e frequentava mais os jogos. Em 2013, ano em que o Cruzeiro foi campeão Brasileiro vencendo pelo menos uma vez todos os adversários, Yuri conseguiu ir a todas as partidas em Belo Horizonte. “Faltei ao meu emprego para ir comemorar no Centro. Foi uma emoção muito gigante”. 

Mas foi justamente nessa época que Yuri passou a se entender como um homem gay. E, com isso, veio o medo de estar dentro do estádio, um lugar onde ele via muita homofobia sendo reproduzida. Pelo receio, só se assumiu para a família e pessoas em quem confiava muito, como suas amigas cruzeirenses. Na arquibancada, ele sabia que tinha que ser o mais “masculino” possível. “Eu tive que me disfarçar para ninguém perceber que eu era um homem gay”.

E foi assim que Yuri viveu nos estádios, sem qualquer identificação, até 2016. Em uma rede social, ele respondeu a um comentário homofóbico de uma moça e isso repercutiu muito na internet. As pessoas passaram a saber quem ele era. Yuri afirma que, ao mesmo tempo que recebeu muitas ofensas, recebeu muito apoio. E desse apoio ele conheceu outros cruzeirenses LGBTQIA+. Nos anos seguintes, esses novos colegas passaram a ser seus companheiros no estádio. Agora conhecido entre a torcida, Yuri ainda tinha que disfarçar sua orientação sexual, mas tinha a segurança de estar junto com as pessoas que conhecia.

Até que, em 2019, ele viu a necessidade de unir os dois mundos: ser torcedor do Cruzeiro e ser LGBT+. Ele reuniu os torcedores LGBTQIA+ do Cruzeiro em um grupo de Whatsapp e, em maio, surgiu a “Marias de Minas”. O nome da torcida veio com a proposta de ressignificar o apelido “Marias”, que é dado à torcida do Cruzeiro de forma pejorativa e machista.

“Eu percebia que, por mais que eu fosse um homem gay no futebol e conhecia outras pessoas LGBT, ainda era um espaço negado para a gente, que excluía a gente. Aí eu falei ‘cara, esse espaço é nosso e a gente tem que lutar por ele de alguma maneira’”, conta Yuri. Inicialmente, o grupo era só um ambiente para que os torcedores ficassem juntos.

Alguns meses após a criação do grupo, Yuri passou por um triste episódio de homofobia. Ele estava com o namorado Warley no estádio e eles foram fotografados e filmados se abraçando. As imagens repercutiram muito: “compartilharam em todas as redes sociais, em todos os grupos de inúmeras torcidas, todo mundo fazendo piada com a gente, muitas ameaças. Um caos total. Acho que foi o meu pior momento dentro do futebol, talvez nem o rebaixamento do Cruzeiro foi tão difícil de ser enfrentado como foi esse momento”. 

Yuri e Warley resolveram, então, reverter a homofobia. Pegaram a foto e o vídeo e compartilharam junto com uma declaração de amor. Com a repercussão, inclusive na mídia, o casal também ganhou muito apoio.

A partir desse episódio, a Maria de Minas saiu do Whatsapp e passou a ser um coletivo que luta contra a homofobia nos estádios, assim como outras torcidas LGBTQIA+ que surgiram no mesmo período. Junto com outros coletivos, Yuri fundou a Canarinhos LGBTQ+, uma rede que reúne as torcidas espalhadas pelo país.

Com isso, Yuri passou a ficar cada vez mais conhecido como ativista entre a torcida do Cruzeiro – e exposto. As ameaças não pararam. No aniversário da Marias de Minas, em 2020, membros de torcidas organizadas invadiram uma live que o grupo preparou para falar sobre as eleições presidenciais do clube e ameaçaram o pessoal de morte. A situação fez Yuri refletir sobre sua atuação. “Tive que repensar muita coisa na minha vida, se eu queria continuar nessa luta. Porque eu poderia estar colocando em risco a minha vida e a minha vida enquanto torcedor. Eu teria que ser menos torcedor de estádio para ser mais ativista, e pensei muito se era isso o que eu queria”, conta.

Yuri continuou na Marias de Minas, até passar por mais uma situação complicada. Seu número de celular foi vazado e começaram a telefonar para ele, com ofensas e ameaças. Assim, Yuri deixou o coletivo. ​

Mesmo sem ter público no estádio por causa da pandemia, o cruzeirense ficou muito apreensivo até mesmo de sair nas ruas de Belo Horizonte. Procurou ajuda psicológica e deu uma pausa na vida de torcedor de estádio, sem saber quando conseguiria voltar. Com a volta do público, ele deixou de ir aos primeiros jogos, por medo. Seu contato com o ativismo ficou dentro do coletivo Canarinhos LGBTQ+, do qual faz parte.

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Yuri e Warley. Fotos: arquivo pessoal.

Até que, no dia 25 de novembro, aconteceu o último jogo do Cruzeiro na série B, contra o Naútico. Mesmo sem o acesso conquistado, a promessa era de casa cheia e festa da torcida na partida que marcava a despedida de Rafael Sobis, ídolo do clube. Yuri pensou e repensou, dividido entre o medo e a vontade de ir. Então, um contato seu do Mineirão perguntou se ele queria ir para o jogo e disse que iria garantir sua segurança, em um lugar separado das arquibancadas.

E com mais de 60 mil pessoas no estádio, Yuri voltou a ver seu time do coração jogar. Mesmo tendo que se disfarçar no estádio, com receio de ser reconhecido, ele aproveitou e se emocionou: “foi um dos jogos mais incríveis, por me sentir pertencente”.

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Higor Juan, fundador da Furacão LGBTQ, na Arena da Baixada. Foto: arquivo pessoal.

​Assim como Yuri, Higor Juan é um torcedor fanático pelo seu clube do coração – o Athletico Paranaense. Nascido em Paranaguá, no litoral do Paraná, ele não tinha referências de futebol na família nem na cidade. Acompanhando jogos pela TV, começou a torcer para o Furacão para “ter um time”. Longe de Curitiba, acompanhava os jogos do jeito que dava.

Até que ele se mudou para a capital, em 2011, para fazer faculdade. “Depois da matrícula, a primeira coisa que eu fui fazer foi meu sócio para poder enfim conhecer o estádio e torcer pelo Athletico estando presente. No meu primeiro jogo, já apaixonei. Não tinha noção do quanto era legal e ia me marcar”, conta Higor.

A partir daí, Higor passou a acompanhar o time fielmente. Estava no estádio sempre que podia e quando não tinha como, acompanhava pela internet. E continua até hoje, não importando o campeonato nem o time: seja sub-12, sub-13, feminino… Ele sempre está lá e aproveita todos os benefícios que um associado tem. “Eu costumo dizer que sou um sócio que dá prejuízo”, brinca.

Quando Higor se aceitou como um homem gay, isso não atrapalhou sua relação com o futebol e nem com o seu clube. Ele não tinha ligado uma coisa à outra. Até que um dia ele foi com o seu então namorado para uma partida. Era um jogo importante e de casa cheia. Foi um choque. “Era muito estranho eu estar lá com o meu namorado e ter aquela sensação de que a qualquer momento alguém poderia perceber e dar algum problema, alguém poderia querer bater na gente ou xingar”, conta Higor. Mesmo nunca tendo sofrido homofobia no estádio, ele conhecia pessoas LGBTQIA+ que passaram por situações assim. Ficou tenso durante todo o jogo. “Só aí eu me toquei que era um espaço onde eu não era bem-vindo. Onde desde que eu não parecesse gay, não ficasse claro, tudo bem, mas se eu quisesse ser eu, seria um problema”.

Depois dessa experiência, Higor começou a pesquisar sobre o movimento LGBTQIA+ no futebol e conheceu a história da Coligay, torcida  do Grêmio formada por homens homossexuais nos anos finais da ditadura. Criou um perfil no Twitter, que ficou parado por algumas semanas. Até que um dia, Higor decidiu responder com essa conta a um comentário homofóbico de uma discussão entre a torcida na rede social. Logo, várias pessoas começaram a seguir o perfil. No dia seguinte, já eram 300 seguidores. Assim surgia a Furacão LGBTQ em novembro de 2019.

Higor não revelou sua identidade no início, por receio. Ele recebeu ofensas e ameaças de torcedores do Athletico que mandavam ele “ir torcer para o Coritiba”. Mas também recebeu muito apoio e conheceu mais torcedores LGBTQIA+. “Não era um grupo, era uma página no twitter. Eu queria só jogar a luz para cima disso. Vocês podem falar o que quiserem, mas tem gay aqui na Arena, tem LGBT, tem sapatão, como vocês chamarem tem”.

O crescimento era tanto que logo o perfil virou grupo de Whatsapp. Os membros do grupo começaram a ir ao estádio juntos, sem se identificar como integrantes da Furacão LGBTQ, mas para oferecerem companhia e segurança uns aos outros. Até hoje eles fazem ações entre eles, como pré-jogos e churrascos, e comercializam itens personalizados com a logo do grupo.

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Logo da Furacão LGBTQ. Foto: reprodução
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Higor e membros da Furacão LGBTQ na Arena da Baixada. Foto: arquivo pessoal

Em 2021, Higor decidiu se assumir como o fundador da Furacão LGBTQ. Em uma carta aberta, que também criticava a falta de posicionamento do Athletico com a causa, ele revelou sua identidade. “A gente não tem mais tempo para esperar, nós temos coragem e sabemos que nossos sonhos já não cabem mais no armário. Por isso, e para conseguir continuar crescendo sem amarras precisamos nos livrar desse segredo. É por isso que, com a certeza de ser a coisa certa a se fazer, me apresento a vocês! Prazer, Higor Juan Bernardino, orgulhosamente fundador da Furacão LGBTQ”, diz a carta.

Nesse ato de coragem, Higor recebeu muitas mensagens positivas. Mas ele sempre soube do risco que tinha nisso. No jogo entre Athletico e Flamengo pela Copa do Brasil, em outubro, logo após a volta do público aos estádios, Higor foi com alguns amigos do coletivo para a Arena da Baixada. Alguns deles usavam a camisa da Furacão LGBTQ. Dias depois, ficou sabendo que alguém o ameaçou de agressão se visse ele andando com a camisa de arco-íris novamente.

Agora Higor, que antes de se assumir como o fundador da Furacão LGBTQ costumava ir sozinho ao estádio, decidiu não ir mais. “Não vou ficar dando sorte para o azar. Não adianta tentar descobrir quem é [que fez a ameaça]. Não sou besta de andar sozinho, me meter em confusão”, afirma. “Nunca me enganei com as coisas ruins. Eu sempre esperei o pior. Eu ser um torcedor LGBT pode ser novidade, mas eu ser LGBT não é. Tenho lidado com isso a vida toda”. 

Uma breve linha do tempo

A Maria de Minas e a Furacão LGBTQ são dois dos vários coletivos de torcedores LGBTQIA+ que surgiram nos últimos anos, pelas redes sociais. Embora seja um movimento recente, uma “torcida gay” não é exatamente uma novidade no Brasil.

Em 1977, surgia a Coligay, torcida do Grêmio formada principalmente por homens gays que frequentavam a boate Coliseu, em Porto Alegre. Até onde se sabe, ela foi a pioneira. A ideia de formar a torcida veio do dono da boate, o empresário e gremista fanático Volmar Santos. O tricolor gaúcho estava há nove anos sem ganhar um único título e Volmar achava que a torcida estava muito “morna”. A Coligay, então, ia para o estádio para torcer da forma mais intensa possível, com faixas, gritos, músicas, instrumentos e trajes. 

Como a Coligay surgiu nos anos finais da ditadura militar, enfrentou muito preconceito, tanto de outros gremistas como de rivais e até mesmo da mídia. Muitos “aceitavam” a presença daquele grupo nos estádios não por não serem contra homens gays, mas porque ali “todo mundo era Grêmio”. Por seis anos, a Coligay frequentou o Estádio Olímpico e virou um talismã: depois da primeira aparição do grupo, em 1977, foram três títulos estaduais, um Brasileirão, uma Libertadores e um Mundial conquistados pelo Grêmio. Em 1983, Volmar deixou Porto Alegre para cuidar da mãe doente e, assim, a Coligay se desfez.

Para João Abel, jornalista e autor do livro Bicha! Homofobia estrutural no futebol, a Coligay foi o movimento mais revolucionário de arquibancadas que existiu, por colocar cerca de 200 homens homossexuais torcendo para um dos maiores times do país, em plena ditadura militar. Mas, segundo o jornalista, apesar do significado importante que isso trazia, a Coligay não tinha um propósito de defender uma causa: “a bandeira LGBT era uma coisa secundária na Coligay. Eles realmente queriam torcer, e inclusive mudam a forma como a torcida do Grêmio passa a se comportar no estádio. São quase que a raíz do que é hoje a torcida Geral do Grêmio”.

Após a Coligay, aparecem algumas poucas torcidas LGBTQ+ no Brasil, como a Fla Gay nos anos 90. Porém, elas não conseguiram se firmar como torcidas de arquibancada e sofreram muita repressão. Até que, na década de 2010, um novo movimento de coletivos LGBTQ no futebol começou a aparecer.

Em abril de 2013, a torcida Galo Queer apareceu em uma página de Facebook. Na mesma semana, surgiram algumas outras torcidas que se definiam como “Queer”, “Livres” ou LGBTs. João Abel conta que essa foi muito impulsionada pelas redes sociais. Se até hoje muitos não associam pessoas LGBTQIA+ com futebol, os próprios homens gays e mulheres lésbicas achavam que eles eram os únicos nesse ambiente. “As redes sociais mudam esse jogo porque essas pessoas passam a se conhecer pela internet, percebem que existem pessoas como elas que moram em outros lugares. A organização se tornou mais fácil”, afirma João. O jornalista também chama a atenção para como isso se associa com o contexto político na época: em junho de 2013, manifestações políticas tomaram o Brasil, organizadas pelo Facebook: “é a estratégia de usar a rede social como plataforma de organização”. 

Apesar desse “boom” em 2013, esses coletivos também poucas vezes tiveram a oportunidade de estar nas arquibancadas. O surgimento dessas torcidas anti-homofobia chamou a atenção, mas a pauta ainda era pouco discutida e eles sofreram muitas ameaças.

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A Galo Queer foi pioneira na mobilização de torcedores LGBTQIA+ no futebol. Reprodução/Facebook

Até que uma nova onda de torcidas LGBTQIA+ nas redes sociais começou a aparecer entre 2018 e 2019. O contexto era outro, tanto no futebol como na sociedade em geral; a pauta LGBTQIA+ se tornou mais presente, com as marcas falando e discutindo cada vez mais essa questão, e com a criminalização da homofobia no Brasil, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) estabeleceu uma regra que orienta os árbitros a paralisarem as partidas quando a torcida começar a gritar ofensas homofóbicas.

Foi justamente em 2019 que Yuri Senna sofreu o episódio de homofobia. Outros casos também ganharam repercussão, como quando o jornalista e palmeirense William de Lucca, hoje com mais de 250 mil seguidores no Twitter, sofreu muitas ofensas e ameaças por, em 2018, questionar a torcida do Palmeiras chamando a torcida do São Paulo de “viado”, sendo que ele próprio era homossexual.

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​Esse contexto pode explicar o crescimento de torcidas LGBTQIA+ no futebol. Elas não são torcidas que vão às arquibancadas como a Coligay foi há 40 anos – e nem poderiam, já que provavelmente seriam reprimidas. Mas elas surgem como espaços de acolhimento para torcedores LGBTQIA+ e atuam diretamente pressionando seus clubes e o futebol como um todo pelo fim da homofobia.

A Canarinhos LGBTQ+

Conforme as torcidas iam aparecendo nas redes sociais, em 2019, três torcedores formaram um grupo no Whatsapp para conversar sobre esse movimento LGBTQIA+ no futebol: Yuri Senna, da Marias de Minas; Onã Rudá, fundador da LGBTricolor (representando o Bahia); e William de Lucca, que era parte do coletivo Palmeiras Livre. Outros coletivos apareceram, como a Coral Pride (Santa Cruz) e a Furacão LGBTQ. Assim, eles viram a necessidade de criar um coletivo maior, que reunisse as torcidas que estavam aparecendo. E assim surgiu a Canarinhos LGBTQ+.

A Canarinhos veio, inicialmente, com uma proposta educativa. O coletivo entrou em contato com os clubes e enviou materiais que orientavam como ter ações efetivas que olhassem para seus torcedores LGBTQIA+. Também foi criado um observatório da LGBTfobia no futebol, que serve como um canal de denúncias para fiscalizar as ações de preconceito que ainda estão ocorrendo nesse espaço.

Para Yuri Senna, apesar do coletivo ainda sofrer resistência de parte do futebol, que ainda é homofóbico, eles estão colhendo resultados positivos. “Desde que a gente começou esse trabalho em 2019, houve uma crescente nos clubes que se posicionam de forma efetiva. Eles sabem que vai ter uma torcida cobrando”.

Hoje, além da ação educativa, a Canarinhos também tem uma frente de denúncias. Quando o coletivo recebe vídeos ou imagens de LGBTfobia nos estádios, esse material é encaminhado para o STJD. No dia 8 de novembro de 2021, o Flamengo foi multado em R$ 50 mil por conta de cânticos homofóbicos da torcida em uma partida contra o Grêmio. Os torcedores gritavam “Arerê, gaúcho dá o c* e fala tchê”. A punição veio depois de uma denúncia da Canarinhos.

Onã Rudá vê a Canarinhos LGBTQ+  e os outros coletivos como um importante meio dos torcedores conquistarem seu direito de torcer nas arquibancadas sem sofrerem repressão. “Esses corpos aqui são negados, não são bem quistos, não são aceitos. Dizer que você faz parte dessa comunidade nesse ambiente é o mesmo que dizer que você é o pior aqui”, afirma. “Existem palavras de ordem históricas e culturais sendo cantadas pelas torcidas. Têm apelidos enraizados como Maria e Bambi. Desconstruir esse processo cultural não é simples, é bem difícil mesmo, mas requer sobretudo posição”.

Além de cobrarem os clubes a se importar com a causa, essas torcidas fazem um importante papel de acolhimento da população LGBTQIA+, mesmo que elas não frequentem os estádios como um grupo. Por promover um espaço de sociabilidade, essas torcidas também se tornam coletivos, como afirma a pesquisadora na área de futebol e gênero Thaís Almeida: “Eu vejo o coletivo como esse espaço inicial para conseguir se apropriar daquele universo, porque tanto para mulheres como para pessoas LGBTQIA+, estar no estádio muitas vezes é estar nesse campo do inóspito, muito pouco acolhedor para essas outras identidades não normativas”, diz. “O coletivo é esse passo: nós temos em comum torcer para determinado time, e que outras identidades nós também compartilhamos? São linhas de escape e resistência”.

Para Onã, essa sociabilidade e acolhimento que os coletivos trazem é uma das coisas que impulsiona a luta e possibilita que mais e mais torcidas LGBTQIA+ apareçam. “Toda vez que a gente vai dando um passo, outras pessoas dessa comunidade vão dando passo junto. Então o fato de a gente existir, ter essa possibilidade, criou o brio em muita gente, que elas também podem inclusive pautar o clube que não tem esse espaço”, afirma.

O posicionamento dos clubes

Por muito tempo, a pauta LGBT+ não existiu no futebol. Clubes não falavam sobre, gritos homofóbicos eram permitidos e a parcela de torcedores LGBTQIA+ nem era considerada. Um levantamento feito pelo jornalista João Abel para o coletivo O Contra-Ataque mostra que, até 2016, nenhum dos 20 maiores clubes do Brasil (considerando torcida e participação nas redes sociais) havia se posicionado contra a LGBTFobia nas duas datas mais importantes para o movimento: o dia 17 de maio, Dia Internacional de Luta Contra a LGBTfobia, e o 28 de junho, Dia do Orgulho LGBTQIA+. 

Em 2017, foram quatro clubes que postaram alguma nota, e esse número aumentou ano a ano. Em 2020, apenas dois clubes (Athletico-PR e Ceará) não se posicionaram. Esse crescimento representa um aspecto não só do futebol, mas de toda a sociedade: a pauta LGBTQIA+ está sendo cada vez mais discutida. “A gente vive uma era de mais pressão sobre as marcas, e os clubes não fogem a essa lógica do mercado. Começaram a sentir que precisavam falar sobre o assunto”, explica João.

Imagem: reprodução/O Contra-Ataque

Um post nas redes sociais, porém, virou quase uma regra. Agora, os coletivos começam a perceber as ações efetivas que os clubes vêm fazendo e como essas ações realmente impactam na luta LGBTQIA+.

O Esporte Clube Bahia é pioneiro nessa questão. Em janeiro de 2018, quando ainda não se falava tanto sobre a homofobia no futebol, o clube criou o Núcleo de Ações Afirmativas (NAA). Esse núcleo surgiu com a proposta de trazer diferentes agentes da sociedade, como professores, publicitários e pesquisadores para pensar nas ações sociais que o clube poderia debater dentro do ambiente do futebol. O Bahia passou a não apenas se posicionar em datas específicas, mas a ter ações externas e internas em prol de pautas sociais, como machismo, racismo e LGBTfobia, com o objetivo principal de promover uma conscientização no mundo do futebol.

Foi nesse contexto que Onã Rudá decidiu fundar a LGBTricolor, a torcida LGBTQIA+ do Bahia. Onã foi na arena Fonte Nova pela primeira vez com o pai, quando era criança. Apesar de ser torcedor, conforme foi crescendo, sua relação com o futebol se tornou um tanto distante pelo fato de ser um homem gay e não se sentir seguro nesse ambiente. Quando ele ia ao estádio, sabia que tinha que disfarçar sua identidade para não sofrer qualquer repressão. 

Conforme as ações afirmativas do Bahia iam ganhando destaque, Onã viu ali uma oportunidade. “Aquilo me deu uma pista de que existia um chamado, o clube estava aberto ou procurando se debruçar sobre esta questão. Então talvez tivesse espaço para a gente ter essa ousadia, de propor uma torcida diversa. Até para testar mesmo qual era o real comprometimento do clube com isso”, conta Onã.

Assim, a LGBTricolor foi fundada em agosto de 2019. Para Onã, as ações do Bahia foram importantes para que os torcedores LGBTQIA+ se sentissem seguros. “Qualquer pessoa, antes das ações afirmativas, que se entendia LGBTQIA+ ia ao estádio figurando um personagem que se afastasse o máximo possível dessa identidade, porque o medo é grande”, afirma. “Hoje em dia eu vou com a bandeira LGBT, é mais tranquilo. Ainda obviamente eu fico apreensivo, mas eu me sinto bem mais tranquilo. Acho que isso é um trunfo das ações afirmativas, sentir segurança de ir”.

Em 2021, o Bahia passou a vender na sua loja oficial a camisa da LGBTricolor, com as cores do arco-íris e os símbolos do coletivo e do clube.

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Onã participou do lançamento da camisa LGBTQIA+ da LGBTricolor. Foto: reprodução

As ações dos clubes no apoio à causa LGBTQIA+ variam muito. Alguns fazem mais, outros fazem menos. Em 2021, o grande destaque no Brasil foi a campanha do Vasco da Gama. Na véspera do dia 28 de junho, Dia Internacional contra a LGBTFobia, o clube lançou uma camisa de jogo em apoio ao movimento. O lançamento veio junto com um manifesto contra a homofobia e a transfobia.

A campanha teve participação direta da Vasco LGBTQ+. Beatriz França, uma das lideranças do coletivo, conta que o clube os procurou para pensarem juntos na ação. Ela pensou que o setor de marketing já teria um plano montado, mas foi surpreendida quando os representantes do Vasco disseram que queriam ouvir o que o coletivo tinha a dizer. “Primeiramente veio a surpresa. Tá acontecendo mesmo? É de verdade?”, conta Beatriz, que entendeu que o Vasco tinha um interesse além do lucro ao realizar essa campanha.

Assim, toda a ação das camisas e do manifesto foi construída em conjunto, torcida e clube. Quando começaram as notícias que o Vasco iria jogar com uma camisa com as cores da bandeira LGBT, eles enfrentaram resistência de uma parte da torcida mais conservadora, que alegavam coisas como o clube ser católico.

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Beatriz França e membros da Vasco LGBTQ+ na campanha de lançamento da camisa. Fotos: divulgação.

Quando a campanha começou, no dia 27 de junho, e os jogadores entraram em campo com a camisa no jogo contra o Brusque pela série B, Beatriz e a Vasco LGBTQ+ se surpreenderam com o sucesso. A ação ainda foi coroada com Germán Cano levantando a bandeira de escanteio personalizada com as cores do arco-íris ao comemorar um gol. Isso não foi combinado – partiu do jogador.

Para Beatriz, vascaína fanática e mulher bissexual, foi um momento de muita emoção. “Eu acho que ali foi o ponto mais alto depois da vitória da Libertadores da Mercosul para mim como vascaína”. ​

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Germán Cano na comemoração do gol. A atitude do jogador repercuitu internacionalmente. Foto: Rafael Ribeiro/Vasco

A camisa esgotou rapidamente na loja do Vasco. E não apenas vascaínos compraram, mas torcedores de outros times também. Já as camisas usadas pelos jogadores foram leiloadas e o dinheiro foi revertido para instituições de acolhimento a pessoas LGBTQIA+. 

Beatriz conta que, com a volta do público após a melhora do cenário nacional em relação à pandemia, existia um medo dos torcedores do coletivo Vasco LGBTQ+ irem com a camisa no estádio: “mas quem foi se sentiu à vontade, viram várias camisas LGBT lá. Vimos uma mudança de comportamento, outros torcedores aceitam a camisa”, afirma.

​Mas não são todos os clubes que têm esse tipo de postura. Muitos não possuem ações efetivas que vão além de posts nas redes sociais, e alguns sequer se posicionam no dia do Orgulho LGBTQIA+ e no dia do combate à LGBTFobia.

O coletivo Coxa LGBTQ+ surgiu no final de 2019, entrando na onda das outras torcidas LGBTQIA+ que apareciam nas redes sociais. Assim como a maioria dos outros coletivos, eles sofreram e até hoje sofrem ofensas por uma parte mais conservadora da torcida.

A fundação do Coxa LGBTQ+ também teve um outro contexto: em 2020, o Coritiba tinha uma diretoria que costumava se posicionar em apoio a diversas causas sociais, o que propiciava um ambiente mais confortável para o surgimento do coletivo, afinal, os torcedores LGBTQIA+ teriam apoio do clube. Naquele ano, o Coritiba fez postagens no dia 17 de maio e no dia 28 de junho. Além disso, fez uma campanha que sorteou um jantar para casais LGBTI+.

Mas em 2021, a diretoria mudou. Segundo Peterson Pereira, um dos membros do Coxa LGBTQ, com a queda para a segunda divisão do Campeonato Brasileiro, o clube precisou cortar custos. Uma das áreas afetadas foi a do marketing, que era quem estava por trás das campanhas. Assim, o clube ficou em silêncio nas duas datas. “A justificativa que eles dão é que o clube estava em uma situação ruim com a eliminação do Campeonato Paranaense, jogando série B, e eles não iam se preocupar com nada a não ser futebol”, diz Peterson.

Para o torcedor, é uma justificativa que até poderia ser compreendida. Porém, o clube fez ações de outras pautas, como dia das crianças e eventos de corrida, que também não têm ligação direta com o futebol. Peterson entende que a homofobia nos estádios não acaba do dia para a noite, mas acha que uma posição do clube é um primeiro passo para a mudança.

“Um posicionamento do clube, colocando a importância de respeito a todos, de redução dos xingamentos LGBTfóbicos nos estádios, uma postura mais assertiva, é o principal motivo e motor para ter de fato uma mudança nesse cenário”, afirma Peterson. O clube se isentar e não fazer nada deixa um vácuo e continua perpetuando toda essa cadeia de opressão que está na sociedade nos estádios”.

Os torcedores LGBTQIA+ do Athletico Paranaense, maior rival do Coritiba, também não encontram acolhimento pelo clube. Conhecido por ter uma diretoria não tão aberta, o Furacão se posicionou a favor da causa apenas uma vez, no dia 17 de maio deste ano. No dia 28 de junho, foi um dos dois únicos times da Série A que não se posicionou, junto com o Ceará. Em 2019, a Arena da Baixada chegou a ficar iluminada por algumas horas com as cores do arco-íris, mas foi uma ação muito pontual, sem nenhuma palavra do clube. 

A torcida Furacão LGBTQ tem contato com o Athletico, mas de uma forma restrita. Os membros chegaram a conversar com o departamento de marketing e pensar em campanhas juntos, mas o clube ficou em silêncio quando chegou a hora. 

O Athletico também chegou a falar em lugares reservados para os membros do coletivo. Mas, para Higor Juan, não é isso que a torcida quer, porque eles ficaram “marcados” e poderiam ser hostilizados. Para o fundador da Furacão LGBTQ, é preciso construir um espaço que se coloque efetivamente contra a homofobia no futebol e promova uma conscientização. “Mais do que conversar com a gente, é ouvir o que a gente tem a falar. Vivemos o estádio em risco, sabemos o que precisa, o que pode e não pode fazer”.

Higor tem medo que o clube só faça alguma ação efetiva quando acontecer alguma fatalidade com algum torcedor LGBTQIA+, o que, para ele, está próximo de acontecer. Ele conta que o ambiente da Arena da Baixada ainda é tão hostil que a Furacão LGBTQ não tem interesse nenhum em irem identificados e sob uma faixa. “Eu nem ficaria perto da faixa. Não é por vergonha, é por medo. Não tenho vergonha de ser quem eu sou. Eu tenho medo por saber que não sou bem-vindo. E quando  o clube se omite, não sou bem-vindo pelo clube”, afirma.

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Existem alguns fatores que explicam essa falta de posicionamento de alguns clubes. Poucos se preocupam em ter núcleos de diversidade, assim como têm o Bahia e também o Internacional. E, principalmente, muitas vezes os clubes têm medo da reação de uma parte da torcida que pensa que não se deve misturar a causa LGBTQIA+ com o futebol.

Assim como o Coritiba não se posicionou em 2021 porque “não era o momento”, clubes que se posicionam enfrentam reações negativas quando algo vai mal no futebol. Foi o que aconteceu com o Vasco, segundo Beatriz França: “Torcedores que são contra [o posicionamento] falam que o clube ficou na série B porque ficou mais ‘preocupado com lacrar’. Mas marketing é uma coisa, futebol é outra”, afirma.

No Coritiba, Peterson sabia que se o clube se posicionasse nesse momento ruim do futebol, receberia reações negativas. “Mas as redes sociais do clube passarem por essa hostilização é perceber como o torcedor LGBT passa por isso todo dia”, afirma o torcedor. 

Para Higor Juan, as pessoas que não concordam com a causa LGBTQIA+ vão sempre arrumar justificativas para atacar o movimento. E isso impacta até na atuação dos coletivos: “se a gente colocar uma bandeira e o Athletico perder, vai ser zica. Quem é homofóbico vai encontrar qualquer coisa para justificar. É preciso fazer as coisas pisando em ovos, porque se errar uma vírgula vai sofrer homofobia”.

Mesmo com a resistência de parte da torcida, e das diferenças entre as ações dos clubes, é fato que um posicionamento dá voz a uma causa e isso pode contribuir para conscientizar muita gente. O jornalista João Abel vê que, nesse contexto, o futebol pode ser o maior aliado da luta LGBTQIA+ no Brasil. “Quando o clube se posiciona, abre os olhos das torcidas que não têm contato com isso. O futebol fala com o público que não costuma falar sobre o assunto. Quando o Cano levanta uma bandeira, muitos não vão ficar indiferentes”, enfatiza. 

A homofobia estrutural no futebol

Por que o futebol é um ambiente tão homofóbico? Para responder a essa pergunta, é preciso entender que, muitas vezes, a homofobia anda lado a lado com o machismo. E o machismo está presente no esporte desde a sua origem.

O futebol foi negado às mulheres. Ele começou a se popularizar aqui no Brasil no início do século XX, mas era visto pela sociedade como um esporte agressivo, viril e masculino. E isso reforçava o que se pensava que era a natureza feminina: a maternidade. “Se as mulheres praticassem o futebol, diziam que as brasileiras vão ser inférteis, e se vão ser inférteis vão ser deprimidas, e o Brasil não vai se desenvolver enquanto nação, porque se não tem futuros cidadãos, falha como nação’”, conta a pesquisadora da área de futebol e antropologia, Caroline de Almeida. “O homem tinha que ser masculino e a característica masculina era a virilidade, era a força, era a ação, em detrimento das características de feminilidade, que eram doçura, maternidade, o sexo frágil”.

Essa visão foi muito difundida durante o Estado Novo de Getúlio Vargas. Por conta da pressão de parte da sociedade que não aceitava mulheres praticando o futebol, em 1941, foi publicado o Decreto-Lei Federal do Brasil 3.199. No artigo 54, estava definido:  “Às mulheres não se permitirá a prática de desportos incompatíveis com as condições de sua natureza, devendo, para este efeito, o Conselho Nacional de Desportos baixar as necessárias instruções às entidades desportivas do país”.

Mesmo não estando especificado, o futebol se enquadrava na lista de “desportos incompatíveis”. A proibição da prática do futebol pelas mulheres foi reforçada durante a ditadura militar e só foi revogada em 1979. Isso causou impactos que afetam o futebol feminino até hoje – mesmo com o crescimento relevante da modalidade nos últimos anos, o futebol masculino ainda tem muito mais visibilidade e movimenta mais dinheiro.


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Manchete do jornal carioca A Batalha do dia 23 de Junho de 1940, alguns meses antes das mulheres serem proibidas por lei de jogar futebol. Foto: reprodução/museu do futebol

Assim como aconteceu com as mulheres, a homossexualidade foi historicamente distanciada do futebol. A atração por pessoas do mesmo sexo era considerada um desvio e uma doença até 1990, ano que a Organização Mundial da Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da lista de Classificação Internacional de Doenças (CID), deixando de considerá-la como uma patologia. 

A eclosão da AIDS nas últimas décadas do século XX contribuiu muito para esse estereótipo do homem gay que era frágil e propenso a ter doenças. E se para jogar futebol você precisava ser homem, viril e saudável, homossexuais foram barrados desse espaço por não serem considerados pessoas sadias. Para o jornalista João Abel, essa construção histórica é um dos fatores que explica a homofobia potencializada no futebol: “ter um homosseuxal no esporte mais popular do país, que é uma coisa que necessita você ser saudável e viril, causa um choque. Então o futebol potencializa essa masculinidade e repele as pessoas que não se encaixam nesse perfil”, afirma.

Os gritos homofóbicos nas arquibancadas 

O goleiro vai cobrar o tiro de meta e a torcida adversária grita “BICHA”. Árbitros são “viados”. O jogador do seu time que não “dá o sangue” é “mulherzinha” e “florzinha”. Se você já foi em um estádio de futebol, com certeza já ouviu alguns desses gritos.

É um ambiente de rivalidade, e os xingamentos são parte de uma tentativa de inferiorizar seu rival em relação a você. E mesmo que esses xingamentos acabem despontando, muitas vezes, em machismo e homofobia, isso tudo é naturalizado nas arquibancadas, porque “faz parte do futebol”. Para José Edgar de Matos, jornalista esportivo do  grupo Globo, há um consenso na torcida de que no estádio “pode tudo”: “muitas pessoas acham que o estádio é um lugar para extravasar tudo de ruim. Muita gente que não tem comportamento homofóbico, tem no estádio porque acha que o futebol é muleta para isso”.

Aqui, um exemplo de torcida gritando “bicha” no momento que o goleiro cobra o tiro de meta. Reprodução/Youtube

Para Gustavo Bandeira, pesquisador na área de futebol e educação, a naturalização desse tipo de ofensa também faz parte de uma educação masculina em que meninos são ensinados a reprimir qualquer tipo de comportamento que seja considerado frágil ou sensível. “Torcer e ser homem são coisas que andam muito juntas. Se para ser homem você tem que trazer a homofobia junto com você, essas coisas acabam casando [no futebol]”.

Alguns afetos, porém, são permitidos nos estádios. Quando o time marca um gol, todo mundo ali se abraça – seja torcedor ou jogador. “Dentro do futebol está liberado abraçar o cara do lado, homens pulando em cima do outro, e ninguém acha isso ‘coisa de gay’. E fora do estádio, muitos homens não gostam de cumprimentar com beijo no rosto”, explica Elyson Gums, jornalista e pesquisador pelo Programa de Pós-Graduação em Comunicação da UFPR. Então porque os cânticos homofóbicos contra os rivais? “Você só pode fazer isso se você não tiver sua masculinidade em risco. Então você canta o tempo todo, que bicha, gay são os outros”, afirma Gustavo Bandeira. “Para eu poder dar o tapa na bunda do meu camarada, dar um abraço no torcedor que eu nunca vi na vida, não posso correr risco de botar a minha masculinidade em suspeita, então eu tenho que garantir que eu sou machão,  héreto. E como eu faço isso? Diminuindo a homossexualidade e colocando ela nos outros”, explica Bandeira.

Mesmo com o crescimento dos coletivos LGBTQIA+ no futebol, com a discussão da pauta cada vez mais frequente na mídia e a proibição do STJD, as torcidas ainda resistem em parar de cantar músicas com temas homofóbicos. “Isso é coisa do futebol moderno”, “estão matando o futebol” é o que muitos afirmam quando são questionados sobre parar com esses cantos.

O “contra o futebol moderno” é um movimento no meio futebolístico que se diz contra a elitização do futebol, questionando principalmente os altos preços cobrados nos ingressos pelas arenas e sendo saudosistas do “futebol raíz”: o futebol mais “raçudo”, com jogadores que não são “nutellas”.

E ao mesmo tempo que defendem um futebol mais “do povo”, muitos torcedores que se dizem contra essa modernização consideram as tentativas de acabar com homofobia no futebol como “frescura”. “Nessa valorização do jogador bruto e grosseiro, que seria o jogador raçudo, acaba tendo alguns deslizes que descambam até para a homofobia em alguns casos”, explica Elyson. “A coisa é vista de uma forma bem binária, oito ou oitenta. Um lado tem o jogador machão, como por exemplo o Adriano Imperador, e o outro tem o Thiago Silva – considerado um jogador sensível, que tira selfie e cuida da aparência”, afirma.

Um princípio de mudança

Em 2019, quando a LGBTFobia foi enquadrada no crime de racismo, o STJD passou a orientar os árbitros que paralisassem partidas em que as torcidas entoassem cânticos e gritos homofóbicos. O órgão também instruiu que os fatos fossem relatados na súmula e recomendou aos clubes que fizessem campanhas educativas para conscientizar os torcedores a não terem mais esse tipo de atitude.

O jogo entre Vasco e São Paulo, realizado em São Januário no dia 25 de agosto de 2019, foi a primeira partida a ser paralisada em razão de cânticos homofóbicos. Após o time da casa abrir o placar, a torcida vascaína começou a entoar aos visitantes “viado, time de viado”. O árbitro Anderson Daronco interrompeu a partida e conversou com o técnico Vanderlei Luxemburgo, que, junto com alguns jogadores, pediu para a torcida parar com os gritos.

Após o episódio, os clubes da Série A fizeram um comunicado simultâneo nas redes sociais no dia 30 de agosto. A arte da campanha dizia: “Pior que prejudicar seu time, é cometer um crime. Grito homofóbico não é piada, muito menos cântico de torcida. Grito homofóbico é crime, dentro e fora dos estádios. Diga não à homofobia!”.

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Beatriz França, da torcida Vasco LGBTQ+, estava no estádio nesse dia. Ela conta que arrumou briga com a própria torcida, revoltada com aqueles gritos. “Não é nem só que doa, que machuque esse tipo de comportamento. Porque a gente sabe que é algo enraizado e está sendo feito não na intenção de ser ofensivo. Mas acaba sendo. As pessoas não entendem que chamar de bicha, viado não é legal. Ser bicha, lésbica não é ser ofensivo”. 

Os coletivos LGBTQIA+, por meio da Canarinhos LGBTQ+, com frequência encaminham ao STJD denúncias de homofobia que acontecem nos estádios. No caso da punição do Flamengo por cânticos homofóbicos contra o Grêmio, no dia 8 de novembro de 2021, a infração é enquadrada no artigo 243-G do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), que define como infração “Praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante, relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça, sexo, cor, idade, condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência”. O Flamengo foi multado em R$ 50 mil pela ocorrência.

Mas não há consenso entre as torcidas LGBTQIA+ sobre a efetividade das punições de cânticos homofóbicos. Higor Juan, da Furacão LGBTQ, afirma que eles têm um posicionamento geral de não ser contra essas músicas. Não que eles concordem – Higor conta que pede para quem os apoia não fazer coro para esses cantos e apoia as punições quando são efetivas. Mas para o torcedor, esse comportamento faz parte culturalmente dos estádios e, para não ter mais xingamentos homofóbicos nesse espaço, é preciso que a sociedade evolua em relação à homofobia no geral: “A gente pode até acabar com canto homofóbico, mas não vai acabar com a homofobia no estádio. O contrário sim. É consequência”, afirma.

Música da torcida organizada do Athletico Paranaense contra a torcida rival, do Coritiba. A canção tem termos homofóbicos. Reprodução/Youtube

Para Renata Ruel, ex-árbitra assistente e atualmente comentarista de arbitragem da ESPN, a punição surge como uma forma de conscientizar a torcida a não ofender os adversários com homofobia, mesmo quando o clube não tem culpa na situação. “Algumas pessoas só sentem quando dói nelas. Eu fiz isso e prejudiquei o meu time. Eu vou continuar prejudicando o meu time? Vai ser multado e é minha culpa?”, afirma.

A arbitragem tem papel central no processo que leva a uma punição dos clubes. Quando o árbitro identifica comportamento homofóbico nos estádios, seja da torcida ou de jogadores e comissão, ele deve imediatamente paralisar o jogo. Em seguida, comunica ao delegado da partida sobre o que está acontecendo. Esse delegado vai explicar a situação aos dirigentes e, se necessário, ao policiamento. Enquanto isso, o árbitro deve conversar com os capitães das equipes, informando o motivo da paralisação. Assim que as coisas se acalmam e os gritos param, o árbitro precisa, obrigatoriamente, registrar o fato na súmula.

Mas nem sempre a regra é cumprida. Muitos árbitros não paralisam as partidas, e outros não registram o fato. Uma semana após a punição do Flamengo, outro caso de homofobia da torcida repercutiu bastante. No jogo entre Náutico e Sampaio Corrêa, pela série B, no dia 15 de novembro, o árbitro da partida, Ivan da Silva Guimarães Junior (AM), parou o jogo após ouvir gritos homofóbicos. Porém, ele não registrou o ocorrido na súmula, o que é considerado um erro da arbitragem e pode gerar punição.

Renata Ruel avalia que, embora as coisas estejam mudando, o fato de muitos árbitros errarem quando se deparam com homofobia nas arquibancadas mostra uma falha no comando. Ela conta que, na sua vivência como árbitra assistente, nunca participou de nenhum curso ministrado pela CBF ou pelas federações que orientasse a arbitragem em como lidar com esse tipo de orientação. “A informação chega para a arbitragem, mas não para todos da mesma forma. Não chega orientação de como e o que fazer. É uma falta de preparo de quem comanda, porque você tem que orientar quando isso acontece”, afirma. 

A comentarista também pondera que os clubes deveriam ser mais ativos para combater a homofobia nos estádios: “Assim como para os árbitros deveriam ter palestras sobre o que é homofobia, é racismo, preconceito, diversidade e inclusão, porque não os clubes passarem essa orientação para os seus jogadores e torcedores?”, questiona. 

A homofobia em campo

Quantos jogadores homens de futebol que você conhece são homossexuais ou bissexuais? Pode ser que a sua resposta para essa pergunta seja ‘nenhum’. Se torcedores identificados como LGBTQIA+ se sentem oprimidos dentro do estádio, a pressão é muito maior entre os jogadores.

No Brasil, apenas um jogador na história se assumiu gay. Ele é Jamerson Michel da Costa, mais conhecido como “Messi”. Quando se assumiu e isso foi repercutido pela mídia, em 2010, ele era o goleiro do Palmeira-RN, que fica na cidade de Goianinha. Messi jogou em alguns clubes menores do Rio Grande do Norte durante os últimos anos e hoje atua no Internacional de Lajedo Grande, clube da cidade de Jundiá. 

A história do Messi brasileiro está contada no livro Bicha! Homofobia estrutural no futebol, do jornalista João Abel. Ele afirma que enfrentou preconceito, mas no geral sempre foi acolhido pelos jogadores e torcedores que conviveram com ele.

Talvez muitos torcedores de futebol nem conheçam o goleiro Messi. Afinal, o tabu da homossexualidade nesse meio é tão grande que muitas pessoas nem pensam sobre.

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O livro Bicha! é uma das obras mais completas sobre o tema. Além de histórias sobre jogadores que se assumiram gays no futebol, João Abel fala sobre coletivos e times formados por pessoas LGBTQIA+

Um estudo da Ernst & Young, encomendado pela CBF em 2018, aponta que existem cerca de 90 mil jogadores profissionais em atuação no Brasil. Já uma estimativa da Associação Brasileira de Gays, Lésbicas, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) diz que pelo menos 10% da população Brasileira é LGBTQIA+. Será mesmo que Messi é o único jogador gay no Brasil?

O jornalista esportivo do grupo Globo, José Edgar de Matos, afirma que é sabido entre a imprensa e entre os clubes que tem sim jogadores homossexuais ou bissexuais no vestiário. “A gente que trabalha no dia a dia tem diversos relatos de jogadores que são homossexuais. Mas ao mesmo tempo eles têm receio de manifestar a sua orientação devido às represálias que o mundo do futebol vai trazer”, conta.

Gabriela Ribeiro, também jornalista esportiva da Globo, afirma que o ambiente do futebol é muito hostil para eles se sentirem confortáveis em se assumir. “Eles não podem expressar porque se sentem coagidos pela torcida, se sentem violentados muitas vezes pela própria imprensa”, afirma a repórter.

Se assumir é realmente um ato de coragem para os jogadores. No Brasil, só conhecemos Messi. No exterior, há uma abertura um pouco – bem pouco – maior, mas jogadores que se assumiram como homossexuais o fizeram depois de se aposentar.

No dia 27 de outubro deste ano, aconteceu algo histórico. Josh Cavallo, jogador do Adelaide United da primeira divisão australiana, publicou um relato e um vídeo emocionante,  afirmando ser gay. Na carta, ele escreveu que lutou contra sua sexualidade por seis anos, mas estava feliz em finalmente falar sobre. “Crescer sendo gay e jogar futebol eram apenas dois mundos que não se cruzavam antes. Vivi minha vida assumindo que esse era um assunto sobre o qual nunca se falaria”.

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Josh também falou que gostaria que sua atitude fosse uma inspiração para outros LGBTQIA+ se assumirem. “Como jogador de futebol gay, sei que existem outros jogadores que vivem em silêncio. Quero ajudar a mudar isso, mostrar que todos são bem-vindos no futebol e merecem o direito de serem autênticos”, escreveu ele em suas redes sociais. 

Diversos clubes e personalidades parabenizaram Josh Cavallo, entre eles os jogadores Gerard Piqué, Antoine Griezmann e Germán Cano. O atleta australiano é o único jogador de um time de primeira divisão assumido no mundo do futebol.

Apesar do grande passo de Josh Cavallo, aqui no Brasil parece bem distante um momento em que jogadores gays ou bissexuais vão se assumir. José Edgar fala que a questão não é nem o preconceito nos vestiários, pois os “jogadores se entendem”. Tanto que a reação dos atletas do mundo todo foi positiva em relação a Josh. 

O problema seria como a torcida e até mesmo os dirigentes dos clubes reagiriam com um atleta gay, já que dentro dos times muitas pessoas são conservadoras e temeriam comentários negativos: “A gente consegue perceber nas entrelinhas quais clubes lidariam melhor com isso nessas ações afirmativas”, afirma o jornalista. 

Gabriela Ribeiro afirma que, se um jogador se assumisse, ele poderia colocar um “alvo nas costas”, já que sua sexualidade poderia ser usada contra ele. “Jogador de futebol também acorda em um dia que não está bem para trabalhar. Todo mundo passa por isso. Só que se o jogador é assumidamente gay, ele não vai jogar mal porque o tio dele faleceu. Vai jogar mal porque ele é gay”, explica.

A jornalista acredita que, quando um jogador se assumir no Brasil, outros atletas podem ser influenciados. “A partir do momento que um jogador tiver coragem de romper essa barreira no futebol brasileiro, eu acho que a gente vai ter uma repercussão tão grande que outros jogadores vão tomar coragem de fazer isso, de assumir quem eles são. Porque no fundo é isso, assumir a própria identidade”.

Como o assunto ainda é tabu aqui no Brasil, também são poucos os jogadores héteros que se posicionam sobre o assunto. Para Gabriela e José Edgar, isso também tem a ver com os clubes não tratarem sobre isso.

“Os jogadores têm mais coragem de falar. Mas se eles sentissem que o próprio clube tem um ambiente legal, isso teria um impacto muito grande”, diz Gabriela Ribeiro. José Edgar também comenta que os times precisariam ter mais diversidade na diretoria, para o assunto ser mais debatido: “Essa questão só vai ser normalizada quando os clubes se prepararem para isso. Um departamento específico com gente LGBTQIA+, com pessoas pretas, com mulheres na liderança, é fundamental”, afirma.

Não são só os jogadores que enfrentam o medo de não poder se assumir. Existem outros personagens do futebol que passam por essa pressão de não poder ser quem eles são.

Um deles é Rogério*, árbitro profissional. Rogério nunca jogou futebol, mas teve contato com a arbitragem na adolescência. E aí decidiu que aquela era a profissão que ele queria ter.

Além de ser árbitro, Rogério é gay. E mesmo que sua família, seus amigos próximos e as pessoas que trabalham diretamente com ele saibam disso, ele não é assumido na sua profissão.

*Nome fictício.

Depois do jogador adversário, talvez o árbitro seja quem mais sofra com ofensas de torcedores nos estádios. Por isso, muitos deles levam uma vida anônima, longe de qualquer tipo de exposição. E por ser desse meio e um homem homossexual, Rogério precisa redobrar esse cuidado. “A gente vive em um mundo, uma casinha, em que não podemos fazer algumas coisas e postar no Instagram, porque os torcedores buscam, a imprensa busca, e tudo acabam usando contra nós. É muito difícil porque falam que aceitam, mas não aceitam”, conta.  

Rogério nunca passou por nenhum episódio direto de homofobia no meio profissional, só quando apitava jogos na várzea. Mas sempre percebeu que algumas pessoas no meio da arbitragem faziam piadas quando ele estava presente. Além disso, ele via que outros árbitros que também eram gays tinham dificuldade de se destacar na profissão e apitar jogos considerados mais importantes. Não pela competência, mas pelo preconceito. “Para esses jogos, é melhor você colocar um árbitro homem hétero, casado e pai, do que um gay. Tem que ter um perfil”.

Por causa de tudo isso, Rogério decidiu não se assumir. E pretende não fazer isso, por querer alcançar voos mais altos na sua profissão: apitar finais de campeonato, jogos da Libertadores e Mundial. “O anonimato é a chave do sucesso”, diz. 

O árbitro entende que, se ele se assumisse, além da sua carreira ser prejudicada, ele iria virar chacota. “Como você quer ser chamado? Aquele moleque que apita muito ou aquela bichinha lá?”, afirma. “A gente trilha um caminho onde fazemos escolhas. E é uma escolha que eu fiz, que infelizmente quem eu sou, o que eu gosto, eu preciso ser dentro da minha casa, com os meus amigos”. 

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2 comentários em “Cartão vermelho para a homofobia”

  1. Belíssimo trabalho, Luana. Grande texto. Que o futebol possa deixar, aos poucos, o medievalismo em que se encontra ainda em tantos aspectos.

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