O Muro começou com uma mentira, mas teve consequências muito reais

Trinta e um anos depois da Reunificação, país ainda precisa completar processo

Em junho de 1961, Walter Ulbricht, que governou a Alemanha Oriental, foi questionado sobre estranhos boatos que circulavam sobre uma barreira física dividindo Berlim. “Ninguém tem intenção de construir um Muro”, disse ele, numa frase que ficaria célebre. Dois meses depois, o governo da Alemanha Oriental cercava Berlim Ocidental de arame farpado e começava a construir um muro de 175 quilômetros separando a antiga capital alemã em duas.

A divisão da Alemanha começou 16 anos antes, no fim da Segunda Guerra, mas naquele momento chegava ao auge. E a separação física de Berlim duraria toda a Guerra Fria, até 1989. Porém mesmo hoje, três décadas depois da reunificação do país, autoridades e estudiosos afirmam que a cicatrização do país não está completa.

Na cerimônia dos 31 anos de reunificação do país, no início deste mês, a chanceler Angela Merkel, que deve deixar o cargo nos próximos meses, alertou para a necessidade de aprofundar as relações entre as metades que viveram separadas à força durante boa parte do século passado. Merkel, nascida na antiga Alemanha Oriental, diz que é preciso que o país demonstre boa vontade e tolerância com seus cidadãos de todo o território. 

“A unificação não está completa nem mental nem estruturalmente”, afirmou a primeira-ministra. “Estejam preparados para novos encontros, sejam curiosos uns com os outros, contem suas próprias histórias e tolerem as diferenças”, afirmou ela, resumindo aquilo que classificou como a lição dos 31 anos de Alemanha reunificada.

Hoje, a Alemanha ainda enfrenta uma diferença significativa na economia de suas antigas metades. A migração dos alemães orientais para a regiões ocidentais mais prósperas logo depois da queda do Muro foi um dos fatores das diferenças. Além de ter uma economia que já sofria sob o antigo regime, a parte oriental da Alemanha perdeu força de trabalho e competitividade. Além disso, as estatais da metade oriental foram vendidas e empregos escassearam.

Nos trinta anos que se passaram, houve a injeção de quase R$ 10 trilhões para tentar alavancar a economia da antiga metade oriental. Mesmo assim, os salários lá ainda são em média 15% menores do que na Alemanha Ocidental, e a produção chega a ser 70% menor. 

A situação como um todo levou muitos alemães da antiga parte oriental a ver o processo de reunificação como incompleto – e pesquisas mostram que um terço dos habitantes da região veem o processo como fracassado. 

Uma das consequências perigosas desse desequilíbrio econômico entre as duas metades do país é o crescimento do apelo de soluções políticas radicalizadas na metade oriental da Alemanha. Embora hoje o país seja visto como um bastião da estabilidade econômica e política da Europa, houve crescimento da AfD, a direita radical, principalmente nos antigos estados orientais.

Merkel, tida como o símbolo dessa estabilidade, aproveitou novamente o Dia da Reunificação, em 3 de outubro, para pedir que os alemães evitem a radicalização. “Às vezes nós não damos o verdadeiro peso a nossas conquistas democráticas”, disse ela, lembrando que a democracia na Alemanha foi conquistada a duras penas e não pode ser perdida.

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